Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 390

discours”,
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inaugurando uma reflexão sobre a lingüística que o acompanhará em todo o
seu programa de pesquisa, Michel Pêcheux procura trabalhar a evidência primeira de
um corte saussuriano definitivamente adquirido. Pêcheux coloca-se ao lado de Claudine
Normand para quem, ao contrário da vulgata saussuriana, é preciso acentuar o conceito
de valor. Com efeito, para Normand (1970):
Vê-se, portanto, em sistemas semiológicos como a língua – em que os
elementos se relacionam uns com os outros em equilíbrio, segundo regras
determinadas –, a noção de identidade se confundir com a de valor e vice-versa.
Eis a razão pela qual, definitivamente, a noção de valor recobre as de unidade,
entidade concreta e realidade. Os termos de conclusão não devem causar ilusão.
Essa afirmação não é o resultado de uma introdução com base em fatos
observados. A noção de valor é aqui introduzida por analogia ao jogo de xadrez,
sem que a ligação com o elemento precedente apareça explicitamente em uma
primeira leitura linear. Trata-se de noção fundamental, que desenvolve o
conceito de língua como sistema. (NORMAND, 1970, p. 37).
A noção de valor é que permite a Saussure tomar a língua como um sistema,
ultrapassando a idéia de que ela se resume a uma simples nomenclatura. No
entendimento de Pêcheux é com o conceito de valor que Saussure consegue deslocar a
língua do âmbito da função para o do funcionamento. Deslocamento que aos olhos
pecheutianos se constitui num
adquirido científico irreversível
. Ou seja, para Pêcheux o
ponto de origem da ciência lingüística ou o ‘corte saussuriano’ não está na superação da
dicotomia língua/fala, mas no fato de que a língua é um sistema.
Em todos esses casos, pois, surpreendemos, em lugar de idéias dadas de
antemão, valores que emanam do sistema. Quando se diz que os valores
correspondem a conceitos, subentende-se que são puramente diferenciais,
definidos não positivamente por seu conteúdo, mas negativamente por suas
relações com os outros termos do sistema. Sua característica mais exata é ser o
que os outros não são
.
(SAUSSURE, 1993, p. 136).
Em “A semântica e o corte saussuriano”, Pêcheux mostra-nos que em Saussure
(CLG) é possível observar contradições. Uma dessas contradições, segundo Pêcheux, é
o conceito saussuriano de analogia. Para Pêcheux, embora Saussure tenha se esforçado
para relacionar a analogia à língua, a analogia faz intervir a idéia e, por ela, a fala e o
sujeito individual. Eis a porta deixada aberta por Saussure, pela qual vão se precipitar o
formalismo e o subjetivismo.
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Edição brasileira: A semântica e o corte saussuriano: língua, linguagem, discurso. Tradução de R. L.
Baronas e F. C. Montanheiro. In: BARONAS, R. L. (org.).
Análise do discurso
: apontamentos para uma
história da noção-conceito de formação discursiva. São Carlos: Pedro & João Editores, 2007, p. 13–32.
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