final dos anos sessenta do século passado, ambos voltaram sua atenção para a história
da ciência, eles freqüentaram diferentes tipos de
corpora
.
Com base na questão anteriormente exposta, num primeiro momento, longe de
querer instaurar uma alfândega epistemológica entre Pêcheux e Foucault, pretendemos
nesta comunicação discutir de forma um pouco mais acurada o que os dois filósofos
franceses compreendem pelas noções de formação discursiva e de discurso, isto é, se
embora homônimas, essas noções independentemente de seus autores, significam
teoricamente a mesma coisa e, num segundo momento, compreender até que ponto as
concepções de discurso e de formação discursiva destes pensadores se mantiveram
inalteradas durante as diferentes arquiteturas pelas quais seus pensamentos transitaram.
Encontros e desencontros epistemológicos entre Foucault e Pêcheux
Formação discursiva
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Entrando definitivamente na ordem arriscada do discurso científico, trago de
início em forma de citação uma nota de rodapé que faz parte do artigo
Os fundamentos
teóricos da ‘Análise Automática do Discurso’ de Michel Pêcheux
, cujo autor é Paul
Henry:
Existem muitos pontos de contato entre aquilo que Michel Foucault elaborou no
que se refere ao discurso e aquilo que fez Michel Pêcheux, pelo menos no nível
teórico (por exemplo, encontra-se em Foucault uma noção de “formação
discursiva” que tem alguns pontos em comum com aquela de Pêcheux), e em
particular no nível prático (Foucault nunca tentou elaborar um dispositivo
operacional de análise do discurso)... Pêcheux partilhava com Foucault um
interesse comum pela história das ciências e das idéias que pode explicar por que
ambos, mais do que qualquer outro autor, focalizaram o discurso (1993, p. 38).
Parto dessa citação para tentar precisar quais seriam efetivamente os pontos de
contato e de afastamento entre as noções foucaultiana e de Michel Pêcheux de formação
discursiva. Devo dizer que não sou o primeiro a empreender tal tarefa. Há todo um
conjunto de estudiosos do discurso que anteriormente, com competência e mais
legitimidade se debruçaram sobre essa questão mesmo que lateralmente. Dentre esses
pesquisadores cito pelo menos dois: Denise Maldidier e Jean-Jacques Courtine, ambos
lingüistas franceses, que participaram ativamente do grupo de Análise do Discurso,
fundado por Michel Pêcheux. A primeira ex-professora da Universidade de Paris X,
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Parte dessas discussões foi objeto de publicação em BARONAS, R. L. Ensaios em Análise de Discurso:
questões analítico-teóricas. São Carlos, SP: Editora da Universidade Federal de São Carlos – EDUFSCar,
2011.