exame da noção de formação discursiva em
A arqueologia do saber
, de Michel
Foucault.
Nos escritos foucaultianos, a noção de formação discursiva aparece pela
primeira vez em
A arqueologia do saber
, texto que, posteriormente, nos
Ditos e
escritos
, o próprio Foucault diz que teria sido escrito como introdução de
As palavras e
as coisas
e que depois fora transformado num livro que tenta teorizar sobre a história
das chamadas ciências do homem. Contudo, não numa história tradicional, contínua na
qual os seres humanos marcham em busca de um
télos,
de um devir, mas numa história
descontínua que descreve o momento mesmo de irrupção dos acontecimentos
discursivos, tornando-os inteligíveis em termos de regras que os governam e os
regulam.
Na verdade
A arqueologia do saber
se constitui numa descrição bastante
complexa e didática do método arqueológico, uma teoria que procura compreender o
funcionamento dos discursos que constituem as ciências humanas, tomando-os não mais
como conjuntos de signos e elementos significantes que remeteriam a determinadas
representações e conteúdos, tal como pensavam os estruturalistas tributários de
Saussure, mas como um conjunto de práticas discursivas que instauram os objetos sobre
os quais enunciam, circunscrevem os conceitos, legitimam os sujeitos enunciadores e
fixam as estratégias sérias que rareiam os atos discursivos.
Com o método arqueológico Michel Foucault busca descrever não só as
condições de possibilidade dos enunciados que formam as ciências empíricas, mas as
condições mesmo de existência desses enunciados. Para tanto segundo Foucault (1993,
p. 28).
é preciso renunciar a todos os temas – tradição; influência; desenvolvimento e
evolução; mentalidade ou espírito; tipos e gêneros; livro e obra; idéia da origem;
já-dito e não dito – que têm por função garantir a infinita continuidade do discurso
e sua secreta presença no jogo de uma ausência sempre reconduzida. É preciso
estar pronto para acolher cada momento do discurso em sua irrupção de
acontecimentos, nessa pontualidade e dispersão temporal, que lhe permite ser
repetido, sabido, esquecido, transformado... Não remetê-lo à longínqua presença
da origem; é preciso tratá-lo no jogo da sua instância.
Ao colocar em suspenso todas essas “sujeições antropológicas”, é possível
descrever quais os atos discursivos que conquistaram sua liberdade condicionada, após
terem passado por um interrogatório numa espécie de “polícia discursiva”, que se
reativa a cada um dos discursos efetivamente ditos e, que determina aquilo que pode e