Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 337

normalidade/cotidianidade”; o extremismo da superficialidade: texto raso; fragmentado;
carente de informações, de margens.
De fato, o bizarro noticiado se valida na ideia de “novo” da notícia: vendável,
atrativo, sedutor ao consumo. Sua essência já está presente na mídia massiva em geral.
Contudo, o compêndio noticioso sob o rótulo bizarro, calcado na superficialidade
extremada, padronizada, rapidez/velocidade da informação, a centralidade no fator
entretenimento como notícia, na notícia, do que propriamente no que está sendo
noticiado, oferta a sensação de “liberdade” da navegação, do usufruir o “proibido” sem
romper com as regras da proibição. Ou seja, o olhar (do) leitor/internauta, desse lugar
social, não o desmoraliza no acesso ao bizarro, pois esse bizarro, que se apresenta, “é
notícia”, e, como tal, tem seu aspecto produtivo, informacional. Não se trata de um site
qualquer de entretenimento, que daria acesso a um mundo bizarro, mas de um site
web
jornalístico, que oferta uma editoria entre outras, noticiosa, informando sobre esse
mundo à parte no mundo em que vivemos e do qual observamos, supostamente, como
web
telespectadores. Trata-se de um acesso ao entretenimento sem a “culpa” do “vazio”
conteudístico do entretenimento ou da falta de moralidade. É notícia jornalística, site de
notícia, editoria de notícia. E não é qualquer notícia, de qualquer jornal. Está no Portal
de Notícias da Globo!, como lugar midiático estabilizado.
São nesses/por esses mecanismos institucionalizantes da notícia, que o bizarro
na
notícia só é possível pelo bizarro
da
notícia. Esse bizarro que se constrói/se
sustenta/se propaga no apagamento/silenciamento naquilo/daquilo que superexpõe.
Aquilo sobre o qual, ao longo da história, não se podia falar, ver, comentar, por uma
proibição normativa, virou notícia. E o perigo de tudo isso é que o que é exposto
continua invisibilizado, silenciado. O “estranho” assumiu o lugar do familiar midiático.
E o
estranho
, discursivamente, é que o bizarro, como o “absurdo” (do) suportável
estruture o noticiário de modo geral e produza uma naturalização no efeito. Vamos
reproduzir/questionar o que se diz, mas não nos interroguemos para o
como se diz o quê
,
com que efeitos.
Para concluir, faço citações do texto “Enigma,
witz
e
joke
”, presente no livro
A
língua inatingível
, de Gadet e Pêcheux (2010, p. 195), quando se referem ao humor
judeu (
witz
) e ao
joke
anglo-saxão, considerando-os pela contradição/tensão. “Pelo seu
jogo, o humor anglo-saxão traça fronteiras no domínio da língua, usa o absurdo como
1...,327,328,329,330,331,332,333,334,335,336 338,339,340,341,342,343,344,345,346,347,...1290
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