Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 338

uma ferramenta domesticadora e pedagógica”, de modo a “fazer surgir a necessidade
deste mundo diante da [sic] de todos os outros mundos possíveis, para organizar essa
necessidade e dominá-la”. O equívoco e o incongruente são compreendidos aí como
“ervas daninhas que a jardinagem lógica se empenha em fazer desaparecer”. Já o
humor judeu (
witz
) se relaciona de forma diferente com o absurdo: “não se entrega
nunca à pura lógica, mas supõe sempre um desvio pela história, a língua, o Texto”.
Tomo a liberdade, contudo, de fazer ler/significar essas citações na relação com
a discussão do bizarro que aqui desenvolvo, requerendo a essência da contradição
invocada: “[...] há tudo o que separa uma ideologia dominada – pela qual a
‘normalidade’ que lhe é historicamente imposta é o absurdo que se deve aceitar tal qual
para sobreviver – de uma ideologia dominante e expansionista, reforçando a sua
normalidade pela demonstração do seu absurdo” (GADET; PÊCHEUX, 2010, p. 196,
grifo dos autores).
É assim que vejo/significo o funcionamento do bizarro
na
notícia como o bizarro
da
notícia: o “absurdo” (como aquilo que é assim apresentado) é exposto para que se
aceite/acate a “normalidade” (normatização/normalização) e o
absurdo
(negação/silenciamento/apagamento da contradição) é invisibilizado para que o diverso
advenha como anormal (rejeitado/indigesto/criminal). Por mais que o bizarro
da
notícia
propague o “absurdo” (inusitado/anormal/desviante) para (res)estabelecer a normalidade
lógica, a contradição (positivação e negativação constitutiva/uma só existe na relação
com a outra) inerente ao bizarro retorna reivindicando o
absurdo
(o
negado/silenciado/apagado) como o possível do sentido (não-fechamento) e não
meramente como o sentido possível (autorizado/administrado).
Referências
FERREIRA, Maria Cristina Leandro (Coord.) (2005).
Glossário de termos do discurso:
projeto de pesquisa. Porto Alegre, UFRGS.
GADET, Françoise; PÊCHEUX, Michel (2010). Enigma,
witz e joke
. In: ______.
A
língua inatingível: o
discurso na história da Lingüística. 2. ed. Campinas, RG. p. 193-
198.
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