Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 342

como a sociolinguística e a psicologia. Mas o que nos interessa aqui é pensar em sua
total reformulação - ou deformação – pensando, assim, no conceito de
ethos
.
Todo ato de tomar a palavra implica na constituição de uma imagem de si, seja
ela proposital ou não. A representação que o sujeito faz de si por meio do seu discurso
integra o conceito de
ethos
. Conceito este que por muitos anos foi rotulado como
pertencente a um
corpus
retórico, mas que recentemente tem despertado grande
interesse nas disciplinas que estudam o discurso. Para Maingueneau (2008a), isso ocorre
em razão do domínio das mídias audiovisuais, em que o centro de interesse deslocou-se
das doutrinas e aparelhos ligados às mídias para a apresentação de si, para o “look”.
Nesse artigo, objetivamos apresentar um breve esboço acerca da noção de
ethos
,
traçando, dessa forma, seu percurso histórico-teórico dentro dos diversos campos de
saberes e das ciências da linguagem. Para isso, debruçar-nos-emos inicialmente sobre a
Retórica Aristotélica e sua
arte de persuadir
para chegarmos até o ponto em que
confluem os caminhos com o nosso trabalho: a releitura do conceito pela Análise do
discurso.
A Retórica Aristotélica relaciona o caráter moral do orador com o seu poder de
persuasão. Assim, por
ethos
designava-se uma imagem de si, uma boa impressão
destinada a garantir o sucesso da oratória e convencer o auditório. Maingueneau (2008a)
cita Declercq ao afirmar que é por meio de vários signos que o orador constrói uma
imagem psicológica e sociológica de si, como tom de voz, modulação da fala, gestos,
escolhas de palavras e argumentos, etc. Em relação ao
ethos
aristotélico, o pesquisador
francês assegura que “não se trata de uma representação estática e bem delimitada, mas,
antes, de uma forma dinâmica, construída pelo destinatário por meio do próprio
movimento da fala do locutor. O
ethos
não age no primeiro plano, mas de forma lateral”
(MAINGUENEAU, 2008a, p. 57).
A
Retórica
de Aristóteles acredita que se persuade pelo caráter quando é criada
uma imagem positiva de si mesmo que comporta três qualidades fundamentais: a
prudência (
phronesis
), a virtude (
areté
) e a benevolência (
eunoia
)
3
, qualidades que
juntas inspiram confiança e determinam nossa crença. Dessa maneira, o orador erra ao
faltar com uma ou mais dessas qualidades, fazendo com que a sua enunciação não seja
3
Não há consenso acerca da tradução dos termos fundamentais de Aristóteles. Optamos, assim, por usar a
de Maingueneau (2008a), uma vez que esta tem relação direta com as teorizações aqui apresentadas. Vale
sublinhar que Eggs (2005) faz reflexões enriquecedoras sobre essas traduções e a consequente escolha por
uma delas.
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