Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 347

social que julgam aceitável. Com isso, o
ethos
torna-se, a revelia dos candidatos, um
corpo persuasivo que levará inevitavelmente essa adesão às urnas.
Adotamos a perspectiva de Maingueneau por julgar que sua “deformação de
ethos
” adéqua-se aos objetivos propostos do artigo, na medida em que nos permite
pensar a construção da imagem de si como uma interação entre muitos pontos: traços de
caráter, físicos, vestimentas, cenografias adotadas,
ethos
dito,
ethos
efetivo; sem com
isso cair na análise de uma psicologia do sujeito empírico ou de uma intencionalidade
por parte do mesmo. Nosso objeto de análise, assim como o do autor, é o discurso: “o
discurso, através da leitura ou da audição, faz com que o destinatário partilhe de certo
movimento do corpo, em um processo de “incorporação” que implica certo “mundo
ético”, associado a comportamentos estereotípicos. (MAINGUENEAU, 2010, p. 80)
Os
ethé
de credibilidade
Embora os trabalhos de Patrick Charaudeau não se inscrevam formalmente no
domínio da Análise do Discurso de orientação francesa, por conta de sua filiação
epistemológica à semiolinguística, não entendemos suas teorizações acerca da
construção de alguns
ethé
como incompatíveis com a AD francesa. Portanto, nos
pautaremos em Charaudeau para pensar sobre os
ethé
de credibilidade.
Para Charaudeau, o
ethos
mais
transparece
do que aparece e, por isso, não se pode
separar o
ethos
das ideias do locutor, pois a forma de apresentá-las constrói uma
imagem:
O ethos é bem o resultado de uma encenação sociolinguageira que depende dos
julgamentos cruzados que os indivíduos de um grupo social fazem uns dos outros ao
agirem e falarem. “As idéias são construídas por uma maneira de dizer que passam por
uma maneira de ser”
5
, afirma Maingueneau. É preciso acrescentar a recíproca, que diz
que as maneiras de ser comandam as maneiras de dizer, portanto, as idéias”
(CHARAUDEAU, 2008, p.118).
Assim, para o autor, as ideias não valem senão pelo sujeito que as divulga, as
exprime, as explica. Para isso, ele deve ser, ao mesmo tempo, crível e suporte de
identificação à sua pessoa. “Crível porque não há político sem que se possa crer em seu
poder de fazer; suporte de identificação porque para aderir às suas idéias é preciso aderir
5
Nesse ponto, o autor inclui a seguinte nota: “conferência proferida no GRAM (
Groupe de Recherche sus
l’Analyse dês Médias
), em 23 de novembro de 2001. Ver também os diferentes tipos de
ethos
definidos
por Maingueneau (2002), que os classifica em: ‘
ethos
efetivo’, ‘
ethos
pré-discursivo’, ‘
ethos
dito’ e ‘
ethos
mostrado’.” O artigo citado é “
problèmes d’ethos
” e sua versão brasileira está disponível no livro
Cenas
da Enunciação
(2008).
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