Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 343

digna de confiança e, com isso, não suscita a adesão do auditório às suas ideias. “É [...]
ao caráter moral que o discurso deve, eu diria, quase todo seu poder de persuasão”.
Acredita-se, assim, que o discurso do orador persuade os interlocutores por meio
desse bom caráter e da confiança que inspira e que estes são “efeitos do discurso”, não
um julgamento prévio a respeito das qualidades morais do orador. Para Aristóteles, o
papel persuasivo do
ethos
ocorre no e pelo discurso, o que em outras palavras quer dizer
que é por meio do discurso que o orador construirá uma imagem de si que dará maior ou
menor validade aos seus argumentos. Assim, o
ethos
torna-se eficaz na persuasão
porque não é dito explicitamente, mas mostrado pelo discurso. Portanto, nas palavras de
Barthes: “são os traços de caráter que o orador deve mostrar ao auditório (pouco
importando sua sinceridade) para causar boa impressão(...) O orador enuncia uma
informação e ao mesmo tempo diz: eu sou isso, eu não sou aquilo” (BARTHES
Apud
MAINGUENEAU, 2008a, p. 59).
Todavia o
ethos
aristotélico é apresentado em dois sentidos diversos. Em uma
acepção moral, o
ethos
é relacionado às virtudes do orador, como já foi exposto nos
parágrafos anteriores; em outra, ele tem sentido neutro ou objetivo (
héxis
) e reúne
termos como hábitos, modos e costumes ou caráter: é necessário que o orador mostre
um
ethos
apropriado para a sua idade, para a sua posição social e adapte seu discurso ao
que espera o auditório. Longe de excluírem-se, essas duas faces do
ethos
constituem
elementos essenciais para
persuadir (convencer
4
)
por meio do discurso, e essa é uma
das “forças” da Retórica: sem persuasão não há Retórica.
A integração do termo
ethos
nas ciências da linguagem encontra sua primeira
expressão na pragmática; mais especificamente na teoria polifônica da enunciação de O.
Ducrot. O autor evita relacionar o enunciado a um sujeito falante, uma vez que é o
próprio enunciado que fornece as instruções sobre os eventuais autores da enunciação. É
por isso que ele difere locutor de enunciador, sendo este a origem dos
pontos de vista e
atitudes
que o locutor apresenta e aquele subdividido em locutor L (ficção discursiva) e
4
Dante Tringali, em seu livro
Introdução à Retórica
, faz uma distinção interessante entre
persuadir
e
convencer
. Segundo o autor, persuadir vem de “ ‘persuadere’ = aconselhar, levar alguém a aceitar um
ponto de vista de modo suave, habilidosamente. Persuade-se provando de alguma forma.” Persuadir, seria
então um “gênero” que compreenderia três modos de persuadir: convencer, comover e agradar. O
primeiro tem por significado “vencer o opositor com sua participação. E tecnicamente denota persuadir a
mente através de provas lógicas: indutivas (exemplos) ou dedutivas (argumentos)” (TRINGALI, 1988, p.
20). Entretanto, os críticos aqui citados e lidos na versão traduzida para o português não fazem essa
distinção e nem teriam porque fazê-lo, uma vez que, dado o caráter diacrônico da língua, hoje possuem o
mesmo significado dicionarizado.
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