Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 901

Bebelo talvez seja a presença de Hermógenes e Ricardão, o que cria um
foil
necessariamente perverso para que toda a noção de crime seja reconsiderada.
Quando Hermógenes toma a palavra e propõe execução sumária a Zé Bebelo, a
recepção da proposta deixa claro o
separamento
de Hermógenes em relação aos outros
jagunços. O
modus operandi
cruel que Hermógenes tinha em mente coloca em jogo o
conceito de julgamento para os jagunços. Estariam eles a julgarem a Zé Bebelo ou a si
mesmos ao fazerem opções de como julgar um homem? Se optassem por executar Zé
Bebelo de maneira cruel não estariam Joca Ramiro e seus jagunços optando por uma
ética jagunça da violência gratuita que, de acordo com os preceitos idealizados pelos
jagunços Titão Passos e Sô Candelário, iria de encontro à ética guerreira? O depoimento
de Hermógenes desenha uma linha no chão que o
separa
dos outros jagunços. O
narrador-protagonista Riobaldo, de fato, tem o desejo de executar Hermógenes e não Zé
Bebelo (ibidem, p. 262). Por mais que Riobaldo lembre de ter pensado vagamente em
matar Hermógenes, podemos perceber que se existe um tribunal idealizado na mente de
Riobaldo, o réu do julgamento que toma lugar nesse tribunal é Hermógenes, e não Zé
Bebelo. Como vemos no decorrer de toda a narrativa é a violência exacerbada de
Hermógenes que cria uma autoconsciência de Riobaldo acerca dos limites da maldade e
da crueldade, mesmo em seu contexto de extrema violência que é o contexto do sertão
em guerra. Hermógenes, para Riobaldo, está do outro lado da humanidade. Podemos
perceber que outros jagunços também pensam assim, vendo suas opiniões acerca das
propostas de Hermógenes.
Ricardão assume uma postura semelhante a de Hermógenes. Para ele Zé Bebelo
deve ser executado porque é um homem diferente dos jagunços, um homem da cidade.
(p. 267). Ricardão expõe Zé Bebelo como um caçador dos jagunços; ligado ao governo;
assassino (único verdadeiro assassino). Nas palavras de Ricardão, a lei dos homens da
cidade é a prisão, a dos jagunços é “a misericórdia duma boa bala”. Interessante notar
como que a noção de lei reivindicada por Ricardão é aquela que recai sobre si próprio
no fim da guerra, quando Riobaldo vence os Judas e sem misericórdia alguma mete uma
bala entre os olhos de Ricardão quando esse esperava um julgamento. Riobaldo apóia a
libertação de Zé Bebelo mas executa Ricardão, porque Ricardão, assim como
Hermógenes, é um traidor e possui uma noção de justiça deturpada do ponto de vista
guerreiro. É possível perceber o
separamento
mesmo ao fim do julgamento, quando
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