GRANDE SERTÃO: VEREDAS
E O JULGAMENTO QUE NÃO É: ZÉ BEBELO
E O
MISTURAMENTO
.
Luiz Fernando Martins de LIMA
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RESUMO:
Buscamos por meio desta proposta revisitar um momento de
Grande
Sertão: veredas
o qual Antonio Candido chama de momento “da mais Alta literatura”, a
saber, o momento do dito julgamento de Zé Bebelo, quem, devido ao seu hábil
manuseio da linguagem, entre outras coisas, consegue escapar da morte nas mãos dos
jagunços de Joca Ramiro utilizando uma técnica a qual iremos denominar
misturamento
. Tal técnica consiste em confundir constantemente a sua própria
identidade com a de seus juízes, os jagunços, criando um efeito – o qual acreditamos
não ser ilusório – de que os jagunços estão a julgar a eles mesmos. Analisando,
portanto, o discurso tanto de Zé Bebelo como de todos os Ramiros e identificando os
momentos de
misturamento
, que pode se dar programaticamente ou não, temos a
possibilidade de entendermos, entre outras facetas desse grandioso romance, a
personalidade plural do narrador protagonista Riobaldo.
Palavras-chave:
Guimarães Rosa, Romance,
Grande sertão: veredas
, Hibridismo,
Textualidade.
INTRODUÇÃO
Em ensaio chamado
O mundo misturado: romance e experiência em Guimarães
Rosa
, Davi Arrigucci Jr. explora diversas facetas do romance
Grande sertão: veredas
em que o hibridismo se faz notar, como a linguagem – formas arcaicas em conjunção
com a linguagem popular –, o gênero – o dramático e o épico unidos na linguagem
dialogizada do narrador-protagonista Riobaldo –, entre outras. Quando chama a atenção
para as diferentes personalidades de jagunços existentes no romance de Guimarães Rosa
Arrigucci Jr. aborda Zé Bebelo como sendo aquele que não pertence ao mundo arcaico
dos demais chefes, estando em oposição a Hermógenes.
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Doutorando em Letras pela UNESP/ASSIS,