Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 895

Antonio Candido em seu ensaio
Jagunços mineiros
de Cláudio Manuel da Costa
a Guimarães Rosa
analisa historicamente a presença do jagunço na literatura brasileira,
concluindo que Guimarães Rosa supera a criação do jagunço como tipo, humanizando-
o.
Isto significa que Guimarães Rosa tomou um tipo humano tradicional em nossa ficção
e, desbastando os seus elementos contingentes, transportou-o, além do documento, até à
esfera onde os tipos literários passam a representar os problemas comuns da nossa
humanidade, desprendendo-se do molde histórico e social de que partiram. (CANDIDO,
1970, p. 156)
Voltando-nos para Zé Bebelo, quem de acordo com Arrigucci está em oposição aos
demais chefes e principalmente em oposição a Hermógenes, e não para Riobaldo, como
faz prioritariamente Antonio Candido, buscamos uma maior compreensão dos processos
lingüísticos os quais compuseram o julgamento do primeiro, momento que, de acordo
com Candido, é da “mais alta literatura”. Sem entrar nas questões de valor literário
levantadas timidamente por Candido, o intuito deste artigo é compreender o que faz do
julgamento de Zé Bebelo um momento tão atraente na leitura de
Grande sertão:
veredas
, partindo da personagem central desse momento, o próprio réu, quem acaba por
não sendo réu, e nem a participar de um julgamento, como veremos adiante.
Esse julgamento que não é de fato um julgamento, pelo menos de acordo com os
protocolos citadinos, se torna momento de autoconsciência de Zé Bebelo, Riobaldo e
Diadorim. Nesse caso, as nuanças de autoconsciência mais inacessíveis são as de Zé
Bebelo, pois Riobaldo é o narrador-protagonista da história, e Diadorim mantém
diálogo com Riobaldo durante e depois do processo. Buscaremos, então, voltar nossos
olhares para o comportamento de Zé Bebelo durante todo o processo, mas não somente.
Todos os jagunços que interagiram foram de total importância para a constituição do
processo que traz diversos elementos para compreender a humanidade dos personagens,
dessa forma, como afirma Candido (op. cit.), a nossa humanidade também.
MISTURAMENTO
Zé Bebelo e a astúcia do
misturamento
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