É com Saussure que essas reflexões se aprofundam e a língua passa a ser
tomada como seu objeto, no entanto, tais inquirições ainda estão circunscritas ao nível
da frase, relegando a um segundo plano pontos referentes aos sentidos, ao discurso em
si, numa extrapolação das fronteiras lineares do texto. As pesquisas empreendidas por
Saussure e outros estudiosos abriram caminhos para investigações do material
extralinguístico, contribuindo para o surgimento da línguística do discurso. Acerca
dessa questão BARROS (2002, p. 2) aponta que “A língüística do discurso pode ser,
assim, considerada como uma tentativa de ruptura de duas barreiras: a que impede
a passagem da frase ao discurso e a que separa a língua da fala, ou melhor, dos fatores
sócio-históricos que a envolvem”.
Desenvolver uma linguística do discurso corresponderia a uma mudança radical
das posições no universo textual, em que os aspectos internos cederiam espaço para os
aspectos externos, os fatores sócio-históricos, em virtude de sua grande influência sobre
a produção da fala, da língua e do discurso. As instâncias do individual e do social são
extremamente relevantes para a realização dos discursos e, no que se refere a esse
aspecto, Bakhtin (2009) ressalta a força do contexto na construção do sentido do texto,
ao afirmar que esse sentido é construído pelo contexto historicamente.
O discurso é infundido no texto por meio dos enunciados e das enunciações
proferidas pelos sujeitos, que precisam se posicionar para que os sentidos sejam
construídos. Esse indivíduo é um receptáculo de valores, de ideologias, de pensamentos
e sentimentos, cujo jogo de escolhas é que o conduz ao conhecimento sobre o que é
tratado, o que é expresso, impelindo-o à ação e a uma troca constante. De acordo com
(BAKHTIN, 2009, p. 121-122)
… a personalidade que se exprime, apreendida, por assim dizer, do interior, revela-se
um produto total da inter-relação social. A atividade mental do sujeito constitui, da
mesma forma que a expressão exterior, um território social. Em conseqüência, todo o
itinerário que leva da atividade mental (o “conteúdo a exprimir”) `a sua objetivação
externa (a “enunciação”) situa-se completamente em território social. Quando a
atividade mental se realiza sob a forma de uma enunciação, a orientação social à qual
ela se submete adquire maior complexidade graças à exigência de adaptação ao
contexto social imediato do ato de fala e, acima de tudo, aos interlocutores concretos.
É clara a importância que Bakhtin atribui ao papel do sujeito na criação dos
sentidos, na participação do indivíduo como ser ativo e social, sendo constantemente
interpelado a uma tomada de consciência do poder de decisão entre as opções que lhe