Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 621

Clássica, e misturavam o cômico e o sério, como o diálogo socrático, a sàtira menipéia,
e a poesia bucólica, opondo-se aos gêneros sérios: a epopéia, a tragédia, a história, e a
retórica clássica. Em comum, esses gêneros possuiam uma “visão carnavalesca do
mundo” (p. 151); a partir deles, Bakhtin desenvolveu a noção de “literatura
carnavalizada”.
Dois gêneros cômico-sérios merecem destaque no estudo de Bakhtin: o diálogo
socrático e a sátira menipéria. É esta última que interessa mais de perto. O filósofo
aponta 14 particularidades essenciais desse gênero, dentre as quais: o caráter não-
moralizante, o elemento cômico, e uso da paródia.
Em “Teoria do Medalhão”, o leitor se depara com um diálogo entre pai e filho,
no momento em que este completa 21 anos e se torna maior de idade. O pai resolve ter
com ele uma conversa “séria” e lhe explica que está na hora de escolher uma carreira,
pois já tem “algumas apólices” e um “diploma” que lhe permitiriam entrar no
parlamento, na magistratura, nas letras, no comércio; ou seja, trabalhar. Mas não é esse
o desejo do pai, e sim que ele se torne “grande e ilustre”, ou, ao menos, “notável” Para
tanto, o melhor “ofício” seria se tornar um “medalhão”: “Ser medalhão foi o sonho da
minha mocidade; faltaram-me, porém, as instruções de um pai, e acabo como vês, sem
outra consolação e relevo moral, além das esperanças que deposito em ti.” (ASSIS,
1998, p. 329)
Nota-se, por meio do diálogo encetado pelo pai, que os conselhos dados a Janjão
não possuem nada de enobrecedor. Não é esse o tipo de conselho que se dá a um filho
que alcança a maioridade e o qual se deseja preparar para a vida, para o mundo.
Normalmente, pais ensinam seus filhos a serem honestos, dignos, confiáveis. O pai de
Janjão, ao contrário, deseja ver o filho “acima da obscuridade comum”, e tenta
convencê-lo a pensar exclusivamente na importância que poderá adquirir na sociedade
em que vivem, sociedade esta que prioriza as aparências, a publicidade conquistada por
meio de “pequenos mimos, confeitos, almofadinhas”. Ele chama a D. Quixote um
“ilustre lunático” ao desejar fazer-se conhecido graças a ações heróicas ou custosas:
O verdadeiro medalhão tem outra política. Longe de inventar um
Tratado
científico da criação dos carneiros
, compra um carneiro e dá-o aos amigos sob
a forma de um jantar, cuja notícia não pode ser indiferente aos seus
concidadãos. (ASSIS, 1992, p. 334)
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