Onze.
Saiu o último conviva do nosso modesto jantar. Com que, meu peralta,
chegaste aos teus vinte e um anos. Há vinte e um anos, no dia 5 de agosto de
1854, vinhas tu à luz, um pirralho de nada, e estás homem, longos bigodes,
alguns namoros ...
Papai ... (ASSIS, 1998, p. 328)
Por meio do diálogo, sabe-se o horário em que a conversa se inicia, a data de
nascimento de Janjão, pormenores da aparência física do rapaz e de sua vida pessoal.
Ouvem-se as vozes de Janjão e de seu pai, o que leva a pensar em “pluralidade de vozes
autônomas”, já que elas não representam, de forma alguma, o ponto de vista de
Machado de Assis e sim se manifestam como “consciências independentes e distintas”.
(BAKHTIN, 1970, p. 32-33). Além disso, Janjão e seu pai não servem de porta-vozes
da filosofia machadiana. É bem verdade que o diálogo estabelecido entre pai e filho
parece um “monólogo autoritário”, como bem apontou Villaça (2008). Mas as
interrupções de Janjão ocorrem, quer seja para discordar do pai, quer seja para ceder a
seus argumentos e é importante observar que seu vocabulário e sua forma de expressão
diferenciam-se daqueles utilizados por seu pai.
Quando o progenitor ensina o filho a se expressar, indica que o vocabulário deve
ser “naturalmente simples, tíbio, apoucado, sem notas vermelhas, sem cores de
clarim...”. Tal comentário enerva Janjão que exclama: “
Isto é o diabo! Não poder
adornar o estilo, de quando em quando...(ASSIS, 1998, p. 332) A expressão “isto é o
diabo” utilizada pela personagem mais jovem e descontraída, distingue-a do pai, cujo
vocabulário é mais formal. Como foi mencionado acima, não há narrador no conto, não
há descrição das personagens e o leitor as conhece por meio do diálogo que encetam,
diálogo este revelador de suas idades, de seu estatuto familiar e de sua situação
financeira.
A ausência do narrador favorece os traços de polifonia, pois ouve-se a palavra
dos protagonistas sobre si mesmos e sobre o mundo sem a interferência do autor, como
se essas personagens tivessem ideias próprias e independentes.
Literatura Carnavalizada
Outro ponto a ser observado é a carnavalização. Em
La Poétique de Dostoiévski
(1970)
,
Bakhtin trata de gêneros múltiplos que se formaram no final da Antiguidade