Outro ponto a destacar é o elemento cômico. Apesar do diálogo ser
aparentemente sério, ele é permeado de ideias absurdas que levam ao riso: quando o pai
sugere a Janjão que siga a “carreira” de Medalhão, o rapaz duvida de sua própria
capacidade. Mas a explicação paterna o convence: ele é naturalmente “dotado da
perfeita inópia mental”, ou seja, da pobreza de ideias:
Tu, meu filho, se não me engano, pareces dotado da perfeita inópia mental,
conveniente ao uso deste nobre ofício. Não me refiro tanto à fidelidade com
que repetes numa sala as opiniões ouvidas numa esquina, e vice-versa, porque
esse fato, posto indique certa carência de ideias, ainda assim pode não passar
de uma traição de memória. Não, refiro-me ao gesto correto e perfilado com
que usas expender francamente as tuas simpatias ou antipatias acerca do corte
de um colete, das dimensões de um chapéu, do ranger ou calar das botas
novas. (IDEM, p. 330)
No entanto, as ideias podem surgir , porque são “espontâneas e súbitas”. É
preciso refreá-las com um regime “debilitante”: “ler compêndios de retórica, ouvir
certos discursos, etc.” (ASSIS, 1992, p. 330). O passeio nas ruas também pode ser útil,
sobretudo se ele não andar desacompanhado, pois “a solidão é oficina de ideias”. O
cúmulo da exposição do pai ocorre quando ele sugere ao filho que tome cuidado com
livrarias e só as frequente para comentar os boatos do dia, as anedotas da semana, “um
contrabando, uma calúnia”; ou seja, para conversar, e não comprar livros.
Outra sugestão paterna é a de que, ao cair de um carro, “sem outro dano, além do
susto, é útil mandá-lo dizer aos quatro ventos, não pelo fato em si, que é insignificante,
mas pelo efeito de recordar um nome caro às afeições gerais”. (IDEM)
Finalmente, o último aspecto da literatura carnavalizada a ser analisado é a
paródia, considerada por Bakhtin um elemento inseparável da sátira menipéia. Na sua
origem, o conceito significa “canto paralelo” ou “contra canto” e tem como uma de suas
características a inversão irônica. Para o filósofo russo, “toute chose a sa parodie, c’est-
à-dire son aspect comique, car tout renaît et se renouvelle à travers la mort”
(BAKHTIN, 1970, p. 175).
O título do conto, “Teoria do Medalhão” é uma desconstrução paródica de textos
científicos, morais, religiosos ou elevados, pois “teoria” remete a estudo, ao resultado de
análise séria e refletida, enquanto “medalhão” é o sujeito desprovido de talento, lançado
a posições importantes devido ás amizades, ao dinheiro, à publicidade. Além disso, a
conversa estabelecida entre um pai e seu filho que acaba de completar 21 anos é uma