Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 628

são oferecidas. Nessa concepção, o sujeito age impulsionado por um outro, num
movimento constante de partilha, de diálogo, no qual vozes variadas se comunicam.
A compreensão do discurso permeia alguns pontos relativos ao enunciador,
correlacionados a uma identificação do locutor, referindo-se a quem é esse sujeito
quando fala, do modo como fala, das condições de como fala e para quem fala. Quando
o sujeito fala, enuncia e, ao enunciar, deixa suas marcas, mas também reflete as marcas
do outro. Por esse motivo, pode-se dizer que o ethos discursivo está relacionado aos
conceitos de interação, de alteridade, das representações que o indivíduo tem de si
mesmo e dos outros quando enuncia, constituindo o caráter dialógico bakhtiniano.
A atitude do sujeito quando enuncia colabora para a constituição do ethos
discursivo, por inseri-lo em um contexto. Nesse sentido, Foucault (1997) aponta para
uma tomada de posicionamento de sujeito ativo e partipante do enunciado no processo
discursivo ao apontar que o sujeito não pode ser reduzido ao conjunto de elementos
gramaticais presentes no enunciado. Esse estudioso afirma ainda que o sujeito não é o
mesmo de um enunciado a outro, podendo adquirir posturas diferentes em enunciados
diferentes. Isso quer dizer que o discurso é um conjunto de enunciados, cuja função é
vazia, mas que se complementa de acordo com o posicionamento tomado pelas pessoas
que enunciam. O discurso é uma construção humana que se configura nas relações
estabelecidas cotidianamente pelos enunciadores, ocorrendo, por esse motivo, trocas
constantes. Nessa direção, Foucault (1997) orienta suas arguições para o papel do
“autor”, temática que não é o foco deste trabalho. Os discursos não existem por si sós,
mas que são gerados e formados a partir de determinadas condições, repetindo-se,
entrecruzando-se, ecoando em enunciados diferentes.
Ao ser enunciado, o discurso é assumido pelo enunciador e, consequentemente,
veicula uma subjetividade, uma visão individual ao mesmo tempo marcada por
elementos exteriores. Ao enunciar, o indivíduo pretende criar uma boa impressão de si
e sua intenção é confirmar aquilo que diz, que informa e não uma outra possibilidade de
ser. A construção da imagem positiva de si mesmo corresponde ao ethos discursivo.
Nessa ótica, (MAINGUENEAU, 2004, p.171) aponta que:
O discurso não é discurso a não ser que esteja relacionado a uma instância que, ao
mesmo tempo, se põe como fonte dos pontos de referência pessoais, temporais,
espaciais e indica qual
atitude
adota em relação àquilo que diz e a seu interlocutor (grifo
do autor).
1...,618,619,620,621,622,623,624,625,626,627 629,630,631,632,633,634,635,636,637,638,...1290
Powered by FlippingBook