Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1126

associava-se às prostituições sagradas. Seu mito contém uma descida aos
infernos, o que explica o sentido iniciático do simbolismo venusiano: um rei
da Babilônia a chama de aquela que, ao nascer e ao pôr-do-sol, torna seus
presságios bons.
As pinturas religiosas de Botticelli seguiam regras precisas e cada uma delas
transmitia uma mensagem, conforme a finalidade para a qual fora encomendada ou
concebida. O Nascimento de Vênus foi pintado, porém, fugindo a essas regras; foi
concebido pela sensualidade, alma e beleza, embora dentro da filosofia de liberdade
humana, popular entre os
neoplatônicos
, que interpretam essa obra como “Humanitas”,
ou seja, a união de
qualidades espirituais e sensuais
, sendo este o perfil da temática
proposta pelo artista para a deusa inspiradora dos apaixonados e dos amantes. Valeram-
se, aqueles, dessas características que lhes eram atestadas desde as eras mais primitivas
- não só pelo autor, mas pela maioria dos artistas da época - sendo descrita, pelos
pesquisadores e estudiosos, como a Vênus, a estrela das doces confidências; a primeira
das belezas celestes, a musa dos apaixonados.
Ainda no
Dicionário de Símbolos
, CHEVALIER & GHEERBRANT (2006),
explica:
Vênus possui ligações de atração voluptuosa e de amor, que nascem da
apetência orgânica do bebê em contato com a mãe e se prolongam até o
altruísmo sentimental. Esse mundo venusiano do ser humano agrupa uma
sinergia afetiva de sensações de sentimentos e sensualidade, a atração
simpática pelo objeto, a embriaguez, o sorriso, a sedução, o impulso de
prazer de diversão, de alegria, de festa na afinidade e na harmonia da troca,
da comunhão afetiva, assim como os estados emocionais que transmitem
encanto, beleza e graça. Inclusive, a divindade aparece em todas as
mitologias com os mais belos atrativos: não há quem possa rivalizar com
Vênus (Afrodite), protetora do hímen e exemplo típico da beleza feminina.
Sob o seu símbolo, reina no ser humano a alegria de viver, na festa primaveril
da embriaguez dos sentidos e no mais refinado e espiritualizado prazer da
estética. Seu reino é o da ternura e das carícias, do desejo amoroso e da fusão
sensual, da admiração feliz, da doçura, e da bondade, do prazer e da beleza. É
o reino daquela paz de coração que chamamos de felicidade.
Na obra, como já citamos, a Vênus é representada nua simbolizando, não a
paixão terrena, carnal, e sim a paixão espiritual. A nudez do corpo aparece muitas vezes
no Ocidente, como um signo de sensualidade, de degradação materialista; é preciso
lembrar, primeiro, que esse não é de modo algum, um ponto de vista universalmente
partilhado. Segundo, que essa concepção conforme a tradição cristã é a conseqüência do
pecado original, da queda de Adão e de Eva.
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