Que o piano sempre toca
De saudade da vovó. (1998).
O poema nasce da palavra, mas a transpassa, vai além dela. Assim é eliminada
a distância entre o "eu" e o objeto. A palavra se torna mágica, pois começa a ser o
objeto em si, singularizado. Aliada a esse fenômeno está a presentificação das coisas, ou
seja, não tendo noção de tempo, nesse sentido, a criança é atraída pelo ato de reviver do
poema.
Concomitante ao universo variado dos integrantes dos poemas, o livro de
Ricardo Azevedo revela o uso do coloquialismo, disseminando-o por todo o texto.
Desprovido de artificialismo, e por isso mesmo, o eu - lírico estabelece uma
cumplicidade com quem aprecia a obra. Por meio da leitura, é possível obter intensos
momentos de regresso ao tempo acolhedor da infância e à superação de uma existência
limitada. O desejo de ver a vovó, de saber se ela está bem ou onde ela está, aprisiona o
eu-lírico em momentos de solidão e dor, por isso ele só resolve esse desejo através do
sonho.
A partir desse prisma, o autor trata da visão infantil sobre as discussões que
permeiam o interior do homem como, família, descobrimento do mundo, fixando-se no
aspecto das relações humanas, nas implicações interiores. Situações como o amor por
Isildinha ou segredos no porão mesclam sentimento, fantasia e realidade.
Segredo no porão
...No meio do esconde-esconde
Cabra-cega ou pegador
Eu dou um jeitinho
De pegar a tua mão...
...Vou atrás e finjo um tombo
Ai meu Deus, estou ferido!
Você para me consolar
Me dá um beijo escondido.
(1998).
É importante que a poesia seja parte integrante da vida e dos momentos
marcantes, pois ela dá novas cores à existência, enquanto a mecanização do mundo
tende a escurecê-la, além de conduzir a beleza em vez de valorizar a utilidade. E é
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