jornais, farpas de madeira, impressos, barbantes e qualquer material deixado de lado
pela vida frenética. Todo esse material ficaria conhecido por compor suas pinturas e
instalações.
Nos ensaios escritos em
Arte no horizonte do provável,
Haroldo de Campos
elucida-se quanto ao poema “Anna Blume” e demonstra-se que a repetição memorizada,
usualmente escolar, da declinação pronominal pessoal é utilizada durante todo o poema
(“du, deiner, dir, dich”), além da falta de lógica de advinhas populares, organicamente
fundidos pelo condão de imagens inesperadas que ocupam o espaço das
experimentadíssimas receitas composicionais da lírica amorosa, associações estranhas à
lógica, destroncamento da ordem natural das expressões (CAMPOS, 1977). Todos estes
recortes desenvolvem um fluxo interno interpolado de vozes que se remete ao amante,
que responde e interroga-se através de modismos coloquiais, deformações dialetais e
gírias, que reverberam em intencionais malapropismos, muitas vezes compondo uma
reflexão sobre a amada
. “
Anna Blume” transformou-se, aliás, em
Leitmotiv
na obra
schwittersiana, surgindo repetidamente em suas inúmeras colagens, mesmo que de
forma fragmentada.
No mesmo ensaio Haroldo de Campos salienta que em “Anna Blume” há
um nó de empenho, uma coesão de fragmentos em função gestáltica do todo, que se
elucida, em relação à cada um dos elementos do poema. A consequência é uma
atualização instantânea do objeto poético, desenvolvido pelos díspares estilhaços e
dejetos da língua. Apesar do estranhamento que a série de imagens incomuns causa ao
leitor, o tema amoroso permanece visível.
Graças à polêmica, o poema tornou-se extremamente popular e fascinou os
leitores mais afeitos a inovações, que passaram a declamar o novo “poema de amor” de
cor. “An Anna Blume” tornou-se um mito e adentrou para a história da literatura de
língua alemã como uma das mais polêmicas e surpreendentes produções de todos os
tempos.