Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 359

o sentido dominante a os outros possíveis sentidos que poderiam estar em
funcionamento em um dado momento histórico, observando como um sentido chegou a
posição de destaque e cristalizou-se como evidente.
Dessa maneira, é preciso entender a memória discursiva como condição do
dizível, isto é, como “o saber discursivo que torna possível todo dizer e que retoma sob
a forma do pré-construído, o já-dito que está na base do dizível, sustentando cada
tomada da palavra” (ORLANDI, 2005, p. 31). Com isso, os sentidos estão sempre em
jogo e em movimento, filiados a uma rede de outros sentidos, que reaparece ou é
evitada, pois, conforme Orlandi (idem, p. 32) “o dizer não é propriedade particular. As
palavras não são só nossas. Elas significam pela história e pela língua”. Sendo assim, é
possível entender que, no discurso, sempre há uma relação entre o já-dito e o que está
dizendo, relação entre a construção do sentido – interdiscurso (todos os dizeres já ditos)
– e a sua formulação – intradiscurso (aquilo que está enunciando em um momento
dado).
Destarte, é esse deslocamento que objetivamos analisar nas propagandas
políticas que constroem sentidos de acordo com o sujeito político. A primeira
propaganda que nos propomos a estudar é a do sujeito político JS. A propaganda
política é construída com fotografias enquadradas dos ex-presidentes do Brasil e
começando a partir de Fernando Collor de Melo, trazendo os outros em seguida até o
então presidente da República – Luís Inácio Lula da Silva. Além disso, ao passar o
quadro de cada ex-presidente, o narrador vai dizendo como foi o governo de cada um,
se bom ou ruim para o país. A proposta da propaganda é mostrar que para o Brasil
continuar a ter um bom governo
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, é preciso que a próxima fotografia que melhor se
enquadre na sequência seja a do candidato JS.
Com relação a propaganda política da candidata adversária, DR, é possível
visualizar a mesma estrutura e construção da propaganda do candidato JS. No entanto,
ao invés de trazer os ex-presidentes a partir de Fernando Collor de Melo, dá ênfase
apenas no ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e nos maus momentos pelos quais
o país passou em seu governo, mostrando, como a própria propaganda diz, para
prejudicar a imagem do candidato JS, “o jeito PSDB de governar”. Em seguida, traz o
quadro com a fotografia do então presidente Lula e com os dizeres sobre a mudança que
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Veja que mesmo o então atual presidente da República –Lula – sendo do partido adversário de JS, o
programa deste não faz críticas ao seu governo, diferentemente do que faz ao falar mal sobre o governo
de Collor, que era aliado ao Partido dos Trabalhadores.
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