Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 358

Por fim, o que acreditamos ser relevante acrescentar acerca do HGPE é a
respeito de sua obrigatoriedade. De acordo com Weber (2000, p. 32), no Brasil, a
obrigatoriedade da propaganda eleitoral gratuita reside no entendimento de que o rádio e
a televisão são veículos insubstituíveis na irradiação de informações, por sua
popularidade e abrangência. No espaço televisivo, especialmente, é possível verificar
uma força mais incisiva, na medida em que consegue aliar duas características capazes
de exercer fascínio sobre o receptor: o som e a imagem em movimento, elementos que
fornecem suporte à construção de uma realidade. A difusão de informações via
programas de televisão pretende beneficiar os cidadãos ofertando-lhes conhecimentos
que possam ratificar ou alterar substancialmente a sua visão acerca de uma realidade
política.
Dispositivo teórico e analítico
Primeiramente, é necessário mencionar que o arcabouço teórico da AD
preconiza que os diferentes sentidos encontrados em enunciados diversos remetem a
memórias e a circunstâncias externas, mostrando que o sentido não está apenas nas
palavras e no texto propriamente dito, mas na relação entre as materialidades
sincréticas, ou seja, entre os elementos verbais e visuais das propagandas políticas.
A AD nos permite e ensina a ver a relação existente entre o mundo e a
linguagem (mediada pela ideologia), ou seja, todo enunciado é suscetível a
interpretação, e que os caminhos da língua, da história e da sociedade se encontram
entrecruzados (FERREIRA, 2008, p. 17). As marcas sócio-históricas podem ser
observadas na materialidade do discurso, produzindo movimentos de sentidos e espaços
de dizer pelos quais o sujeito abriga a sua voz. Assim, a exterioridade torna possível a
relação entre sujeito e língua, além dos movimentos de dizer e de interpretar. Além
disso, nos interessa o conceito de memória discursiva em sua relação à linguagem e à
história (COURTINE apud MARIANI, 1998, p. 38), ou seja, é a memória discursiva
que promove a reatualização de já ditos, de palavras inscritas em outros contextos. Esse
efeito de atualização possibilita a teia do dizer a continuar a ser tecida, isto é, produz
efeito de uma memória no “momento futuro”, de forma imaginária e idealizada.
É relevante salientar que tais movimentos de retomada, fixação e continuidade
de sentidos, historicamente marcados, não se dá sem levarmos em conta as relações de
força que permitiu hegemonias e movimentos de resistências. Isso nos leva a relacionar
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