exercer uma influência didática sobre o leitor, convencê-lo, suscitar sua apreciação
crítica (...) A obra predetermina as posições responsivas do outro nas complexas
condições da comunicação verbal de uma dada esfera cultural.
Se pensarmos na réplica do diálogo como uma obra que responde ao leitor seus
interesses e inquietações observamos que o posicionamento crítico é pertencente a
própria natureza de leitor, mas o status de crítico é institucionalizado e obedece a
processos acadêmicos de formação. Isso significa dizer que nem todo leitor é crítico,
mas todo crítico deve ser leitor. A réplica do diálogo dá voz ao outro a partir de uma
posição responsiva do embate.
A atividade crítica, a grosso modo, encontra-se na tarefa de ser uma
leitura (crítica, evidentemente) de uma obra e isso nos leva a romper com pelo menos
dois mitos que envolvem a noção de crítica: i) a crítica é uma opinião e ii) a crítica
facilita a leitura da obra. De modo contrário diríamos que a crítica não é somente uma
opinião uma vez que não raramente ela se encontra embasada em teorias que não são de
autoria do crítico que a produz. E nem sempre a crítica facilita a leitura da obra, pois
estamos no terreno movediço das interpretações e a tentativa de produzir uma crítica
didática ou tornar determinada obra complexa inteligível para leigos pode não ser tarefa
fácil. Visualizamos, portanto, a crítica acadêmica como um lugar de se fazer-saber o
estético em relação ao ético no espaço institucional universitário.
As monstruosidades da crítica
: a réplica do discurso crítico filosófico
Em
As monstruosidades da crítica
(2006, p. 316-325)
3
, texto que faz parte da
obra
Ditos e Escritos
(vol. III), Foucault apresenta-nos as réplicas de duas críticas sobre
seus escritos, uma realizada por um professor universitário
4
e outra por um crítico
jornalista
5
, que utilizando-se dos quatro procedimentos tradicionais de transformação do
texto – a
falsificação do texto
, a
citação fora de contexto
, a
interpolação
e a
omissão
– e
das mesmas três normas – a
ignorância do livro
, a
ignorância daquilo que eles falam
, a
ignorância dos fatos e dos textos que eles refutam
– chegam, no entanto, a resultados
3
Versão francesa: “Monstrosities in criticism”;
Diacritics
, t.I, n
o
1, outono de 1971, p. 57-60.
4
PELORSON, J. M. “Michel Foucault et l´Espagne”;
La pensée
, n
o
152, agosto de 1970, p. 88-89.
5
STEINER, G. “The mandarin of the hour: Michel Foucault”;
The New York Times Book Review
, n
o
8, 28
de fevereiro de 1971, p. 23-31.