não ultrapassava os muros do espaço doméstico e, ao serem ambos os autores religiosos,
mostram o poder da fé na organização do âmbito privado naquele momento histórico.
O cuidado com a família, pela dona de casa, também abrangia a saúde, e, dessa
forma, as mulheres que não estudavam medicina nas universidades, divulgavam, entre
elas, remédios caseiros para a dor de ouvidos, tosse, inflamação de garganta, diarréia,
etc. Estas receitas eram registradas, às vezes, por alguma mulher de classe social alta
que tinha o privilegio do conhecimento da escrita, e conseguia transmitir estes
conhecimentos de mãe para filha. Há que se observar que algumas dessas receitas foram
recuperadas por estudiosos do comportamento feminino através da história.
Outros registros desta natureza falam do cuidado com a higiene, com a beleza e
com a importância do desempenho sexual na arte da conquista, e mais tarde, com a
manutenção do interesse do homem pela mulher. A beleza clássica somada a um dote
suculento era fundamental para conseguir um bom marido. A cosmética informal
ensinava, assim, as propriedades e o uso das plantas. Porém, os registros encontrados
com as receitas caseiras, que mostravam o cuidado com a alimentação familiar, eram
divididos entre as mulheres e grandes cozinheiros da corte.
Esses são os antecedentes que encontramos no desempenho da mulher como
escritora, num tipo de texto pragmático e cujo principal objetivo era transmitir o
conhecimento de mãe para filha.
Já na Idade Moderna, vemos o surgimento de algumas mulheres que ultrapassam
as fronteiras do privado e se convertem em escritoras e intelectuais renomadas, como
Sor Juana Inés de la Cruz , poetisa Hispano - Américana, que também escreve algumas
receitas de cozinha. Novamente nos encontramos com a figura religiosa no campo
intelectual. A clausura do convento lhes permitia, tanto às mulheres como aos homens,
uma dedicação maior a leitura, maiores estudos e maior liberdade de pensamento, o que
não era permitido à mulher comum.
Na segunda metade do século XX, como resultado da revolução de 1968,
surgem grandes lutas por transformações do comportamento da ética e da sexualidade,
da defesa da mulher; da defesa aos direitos humanos, ao lado da rejeição ao capitalismo,
surgem nesse momento às lutas de classes, a descoberta da pílula anticoncepcional, e,
como conseqüência de tudo isto, a mulher consegue entrar na universidade e estudar
outra carreira que não fosse só a de professora primária. Porém, apesar do destaque das