Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 660

CARNAVALIZANDO O PERCURSO DIVINO PELO RECÔNCAVO BAIANO:
UMA ANÁLISE DO CONTO “O SANTO QUE NÃO ACREDITAVA EM DEUS”, DE
JOÃO UBALDO RIBEIRO
Héder Junior dos SANTOS
1
Resumo:
Este trabalho tem por objetivo analisar o conto “O santo que não acreditava em
Deus”, escrito pelo baiano João Ubaldo Ribeiro e presente no
Livro de histórias
(1981). O
narrador-pescador nos conta, por meio de uma perspectiva carnavalesca e humorística, a
trajetória da personagem Deus pelo recôncavo da Bahia (de Itaparica até Maragojipe), ou
melhor, sua procura por um novo santo, o ateu Quinca das Mulas. Ao observarmos a
construção estético-textual dessa estória, notamos ser fulcral a intensa retomada de outros
textos e contextos, conforme demonstraremos nesse trabalho. Num viés paródico e
rizomático, o conto procura também reficcionalizar algumas cenas das Escrituras Sagradas,
em especial do “Velho Testamento” e do “Novo Testamento”, além das ficções greco-
mitológicas. A partir desse horizonte, em “O santo que não acreditava em Deus” ocorre uma
inversão completa das estruturas hierárquico-sociais e também significativas do mundo
habitual, aquele não pautado pelo desnudamento do carnaval; as personagens do conto em
questão perdem o medo, a devoção e a etiqueta formal, elas desposam-se de suas posições
sociais e rompem o distanciamento que causa o esfriamento das relações humanas. Portanto,
as figuras mítico-religiosas são rebaixadas e a elas são conferidas as vicissitudes da condição
humana. Decorre daí a dessacralização e, conseqüentemente, a tônica carnavalesca.
Palavras-chave:
carnavalização; riso; literatura brasileira contemporânea; João Ubaldo
Ribeiro; Mikhail Bakhtin.
No carnaval todos são participantes ativos, todos participam da ação carnavalesca.
Não se contempla e, em termos rigorosos, nem se representa o carnaval mas vive-se nele, e
vive-se conforme as suas leis enquanto estas vigoram, ou seja, vive-se uma vida
carnavalesca. Esta é uma vida desviada da sua ordem habitual, em certo sentido uma “vida
às avessas”, um “mundo invertido”.
Bakhtin
, Problemas da poética de Dostoiévski, 2002
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Mestrando em Letras pela FCL da UNESP/ Assis, bolsista do CNPq, graduando em Filosofia pela FFC da
UNESP/ Marília e membro do Grupo de estudos e pesquisa em Cinema e Literatura pela mesma instituição,
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