personagem bíblica, tão polêmica e poderosa na narrativa. Biblicamente, não há qualquer
fundamento para considerá-la uma prostituta, isso decorre do relato “Jesus e a pecadora” (Lc
7, 36-50), onde não há nenhuma identificação nominal da mulher que lava os pés de Cristo e
os enxuga com os cabelos, sendo ao final perdoada por ele.
O nome “Maria, dita Mágdala”, aparece em “Os que acompanhavam Jesus em suas
peregrinações” (Lc 8, 1-3), de quem saíram sete demônios (apontados pelos estudiosos como
os sete pecados capitais). No entanto, tradicionalmente “Madalena” ficou conhecida como a
prostituta arrependida e apóstola das mais amorosas de Cristo e, contemporaneamente, alguns
estudiosos, como Margaret George, Henry Lincoln, Michael Baigent e Richard Leigh, autores
do livro
O Santo Graal e a Linhagem Sagrada
(1982) e ficcionistas, como Dan Brown, em
seu romance
O Código da Vinti
(2003) retomam Maria Madalena, como mulher e mãe dos
filhos de Cristo, sustentando suas idéias na possibilidade dos revisionistas cristãos terem
alterado os originais dos Evangelhos. É também a partir desse caráter profanador, que a
narrativa ubaldiana se respalda em torno da caracterização de Madalena. Ela é uma
personagem secundária na diegése; há uma menção a ela, num diálogo entre Deus e o
pescador. Parte do primeiro o interesse por alguma das agregadas de Adalberta que tenha esse
nome. É cogente que destaquemos que Deus encontra-se bastante bêbado e contente nessa
instante da narrativa, o que reiteraria a ambígüa cosmovisão carnavalesca.
É nesse contexto de profanação sexual que podemos enaltecer a presença da
transtextualidade também com outra personagem secundária na narrativa. Observamos que a
personagem Luis Cuiúba é referenciada duas vezes no conto, ambas se referindo à linha
trazida por ele para o narrador pescar – que por sua vez, destina-se ao narrador-pescador
fisgar uma infinidade de carrapatos. Essa personagem pertence a outro conto do
Livro de
Histórias
, “A vez quando Luiz Cuiúba comeu seis ou sete veranistas”, quarta narrativa do
livro em questão. A esse respeito, podemos chamar de intertextualidade interna da obra; com
sentido alusivo, que reitera o sentido profanatório de “O Santo que não acreditava em Deus”;
no conto de Luiz Cuiúba, a profanação se dá pela intensa atividade sexual das personagens,
mas especificamente, das seis ou sete senhoras casadas que, no período de férias pela Ilha de
Itaparica, descobrem a disposição sexual de Luiz, que, em fila ordenada, relaciona-se com
todas elas.
Por fim, podemos destacar uma transtextualidade que atualiza e subverte o conteúdo de
uma narrativa anterior à bíblica: a narrativa mitológica do Caronte. Essa figura do mundo