Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 675

Mas se a lista de autores citados é extensa, a utilização das palavras de outrem
segue sempre o parâmetro intertextual daquele a quem Orfeu chama de pai: Adolf
Hitler.
No livro
Minha luta
, Hitler expõe o que deve ser a erudição de leitura do homem
“dito” superior:
Sob o nome de leitura, concebo coisas muito diferentes do que pensa a grande maioria
dos chamados intelectuais. Conheço indivíduos que leem muitíssimo, livro por livro,
letra por letra, e que, no entanto, não podem ser apontados como ‘lidos’. Eles possuem
uma multidão de ‘conhecimentos’, mas o seu cérebro não consegue executar uma
distribuição e um registro do material adquirido. Falta-lhes a arte de separar, no livro, o
que lhes é de valor e o que é inútil, conservar para sempre na memória o que lhes
interessa e, se possível, passar por cima, desprezar o que não lhes traz vantagens, em
qualquer hipótese não conservar consigo esse peso sem finalidade. A leitura não deve
ser vista como finalidade, mas sim como meio para alcançar uma finalidade. [...] é
necessário que o conteúdo de qualquer leitura não seja confiado à guarda da memória na
ordem de sucessão dos livros, mas como pequenos mosaicos que, no quadro de
conjunto, tomem o seu lugar na posição que lhes é destinada, assim auxiliando a formar
este quadro no cérebro do leitor (Hitler, 2005, p. 32).
Seguindo a ideia do Füher, Orfeu utiliza os discursos de outrem como objetos a
formarem pequenos mosaicos que possuem uma só finalidade: justificar o assassinato
de duas crianças e um adolescente segundo a filosofia da raça ariana pregada por Hitler.
Para exemplificarmos este expediente dialógico utilizado por Orfeu analisemos
dois dos discursos por ele citados: um no qual ele deturpa, conforme o conceito que
quer defender, o entendimento das palavras paradigmas; outro em que utiliza o discurso
tal qual a intenção do autor.
“Nem todos sabem que os Aliados encontraram, num campo de concentração, sete
toneladas de cabelos de mulher, amontoados do lado dos fornos crematórios, e
destinados ao fabrico de colchões. A exterminação é isto.” (Santareno, s.d., p. 186). A
frase anterior é copiada por Orfeu em seu caderno. Citando o autor e a obra, o assassino
nos revela que ela pertence ao livro
O julgamento de Nuremberga
de Didier Lazard.
Na obra paradigma, Lazard constrói seu texto a partir de testemunhos que, no
processo de Nuremberga, denunciaram que os nazistas tinham conhecimento da
ilegalidade de seus atos, mas mesmo assim continuavam a exercê-los. Nesse sentido, o
autor denuncia como prática corrente a vindita pública assassinando aviadores inimigos
que pousassem em território germânico. Além disso, revela que nos campos de
concentração, os alemães permitiam que experiências biológicas fossem praticadas com
os presos de guerra; dentre elas, o congelamento de homens vivos, o assassinato de
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