Jonas no fundo do abismo ora ao Senhor, que o salva” (Jn 1, 1-16 e Jn 2, 1-11) e Paulo no
“Novo Testamento”, elas são coagidas e castigadas, e um tempo é conferido a elas, a fim de
que pensem sobre sua decisão negativa. No caso de Jonas, ele é arremessado ao mar e
engolido por um enorme peixe, ficando em seu estômago até que decida filiar-se aos
propósitos divinos, e com Paulo, uma cegueira lhe é conferida na estrada de Damasco.
Ou seja, assim como nos textos sacros, no conto (apenas quando Deus revela-se ao
pescador e não a Quincas), a persuasão se dá por meio da coação, da soberania da vontade e
principalmente por feitos, que alteram alguma condição física dos procurados e requisitados
por Deus, que por sua vez, nunca desiste deles. Dessa forma, nessas narrativas e com tais
personagens, Deus acaba sempre vencendo. Diferente situação se dá no desfecho do conto “O
Santo que não acreditava em Deus”, com a recusa de Quinca das Mulas, quando se instaura a
parodização das escrituras sacras e a elas é conferida uma inversão completa dos sentidos,
principalmente daqueles pré-estabelecidos, disseminados e demonstrados pelo texto bíblico.
Ainda no trecho anteriormente transcrito, outras manifestações transtextuais irônicas se
configuram, como na relação com os “dez por cento” de pagamento dizimal à Igreja, que
encontra respaldo no texto bíblico. É em “Responsabilidade de cada na manutenção do culto”
(Ml, 3, 6-12) que se encontra tal injunção. O conto apóia-se numa inversão irônica da ordem
“devedor-pagador”, como se a figura divina ao invés de receber, pagaria a Quinca das Mulas
(como uma espécie de compensação) o consentimento ao encargo santifico. Uma clara alusão
às relações capital-trabalho, tão presentes em nossa contemporaneidade.
A passagem bíblica “Jesus Caminha sobre as águas” (Mt 14, 22-33) também é
reentrante no fragmento em que nos detemos. Essa narrativa nos conta um instante milagroso
de Jesus, que atravessa primeiramente o mar com seus discípulos, utilizando-se de um barco
para rezar nas montanhas, anoitece e ele volta sozinho sobre as águas. A primeira impressão
que os seguidores de Cristo tiveram foi de perplexidade, mas reconheceram o Senhor, que por
sua vez, chama Pedro a caminhar sobre as águas também, ele aceita, mas amedronta-se no
meio da passagem, afogando-se e sendo chamado por Jesus, de “Homem de pouca fé”. No
conto, o hipotexto bíblico é evocado justamente por Quinca das Mulas, por meio de uma
transtextualidade, com a finalidade subversiva de questionar a real existência da figura divina,
desafiando-o e provocando-o a realizar novamente o feito tão difundido pela tradição e
literatura cristãs. É curioso enaltecermos que esse milagre bíblico é retomado, no mesmo
conto, ainda em seu início, também para versar sobre real identidade divina, “Esclareceu que,