acadêmico para, posteriormente, examinarmos o artigo de T. S. Eliot,
Ulysse: Ordre et
Mythe
, de 1923, publicado na
La Revue des Lettres Modernes
, em 1959, objetivando
focalizar o discurso crítico literário universitário.
A crítica e a réplica do diálogo
Um dos primeiros tipos de crítica a surgir na imprensa foi a crítica literária,
dedicada a analisar livros, romances, poemas e outras obras de literatura. No século
XIX, escritores como Victor Hugo, Émile Zola e Machado de Assis faziam crítica
literária ao mesmo tempo em que publicavam seus próprios escritos literários. Diferente
do que acontece em outras áreas como, por exemplo, cinema, música, teatro e artes,
vários autores consagrados exerceram (e exercem) crítica literária, comentando
trabalhos de colegas e, por vezes, passando de “vidraça” a “atiradores de pedras”
2
.
Entretanto, este tipo de inversão de papéis é menos comum nas outras críticas, como
cineastas fazendo crítica de cinema, ou músicos fazendo críticas de música, por
exemplo.
Nas faculdades de Letras e na academia em geral, não percebemos essa inversão de
papéis, pois o professor não se desloca de seu papel enquanto produz uma crítica: a
produção da crítica faz parte da produção de conhecimento e reflexão, assim como ela já é
esperada tanto por seus colegas como pelos estudantes em sala de aula. O professor da área
de literatura, por exemplo, geralmente se embasa em críticos reconhecidos da obra a ser
contemplada em sala de aula, justamente pelo crítico ser um referencial de autoridade sobre
os elementos que compõem certo estilo de literatura. Do mesmo modo acontece na
produção e divulgação de críticas filosóficas, sociológicas, históricas etc. Isso significa dizer
que nem sempre a fronteira que separa o papel do professor e do crítico acadêmico é visível.
De acordo com Bakhtin (
op. cit
., p. 298):
A obra, assim como a réplica do diálogo, visa a resposta do outro (dos outros), uma
compreensão responsiva ativa, e para tanto adota todas as espécies de formas: busca
2
É conhecido o conflito de 1885, em que o crítico Sílvio Romero, o maior de seu tempo, escreve um
artigo utilizando-se de um vocabulário um tanto pejorativo para mencionar a obra de Machado de Assis.
O próprio Machado, anteriormente a esse acontecimento, em 1878, deslocando-se da função autor para a
função crítico fez duras restrições ao escritor português Eça de Queirós, dada a publicação de seu
romance
O primo Basílio
(1878).