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por isso mesmo, ocorre repetição desse discurso, cada vez mais incisivo, mais
categórico. Assim, se não há resistência desse discurso
salvador
do sistema
educacional, não haveria mais razão de levar esse jogo de poder sobre o leitor. Em vista
disso, torna-se necessário provocar o equívoco do manuseio de materiais didáticos
específicos pelos professores para ressaltar
outro
modelo, uma receita infalível, capaz
de suprir e garantir bom ensino.
A partir disso, percebemos os reflexos da opinião em
Veja
na construção de
consensos para a área educacional que se esparramam tanto num nível social mais
elevado quanto nos níveis em que os leitores são mais susceptíveis a opiniões
legitimadas. Essa talvez seja a classe que mais seja atingida por esse tipo de discurso,
apesar de não ser, de início, o público alvo da revista. Constrói-se, segundo Ricardo
Filho (2005), uma “rede de legitimidade”, que transforma saberes em verdades que
funcionam como mandamentos que não são questionados pelos leitores.
Não negamos, pois, a existência dos saberes constituídos no LD, pois estes
dentro da sala de aula ainda são símbolo de poder e verdade, porque é nele que está
inscrita a prática pedagógica e o saber escolar, nem mesmo dizemos que todos os
professores são (des)comprometidos com a educação. O que ressaltamos, no entanto, é a
crescente mobilização, por parte dos articulistas, que revelam o
capital
, de dimensões
possíveis de adestramento do indivíduo, o que limita, em muitos casos, a ampliação de
sua própria intervenção no mundo como sujeito.
É necessário romper com a repetição do já pensado para deixar suscitar os
novos sentidos, novas formas de pensar, a partir de vários saberes, não de um único,
irrevogável. É preciso nos livrar das receitas, é preciso ousar, experimentar, testar a
capacidade de pensar de outro jeito. Neste caso, não nos basta usar o instrumento
didático, o livro essencialmente, como única e eficaz ferramenta capaz de atingir o
objetivo da escola: ensinar os alunos a pensarem por meio do conhecimento. Esse só
pode ser eficaz quando sair de si mesmo, quando for capaz de atribuir outros novos a
partir de novas formas de pensar, o já dado, não da mera repetição que forja o
conhecimento, não do adestramento que torna o saber dos indivíduos mais um modelo a
seguir. Nesse embate, portanto, é preciso lembrar que mídia e escola são divulgadores
do saber, assim o jogo de resistências de parte a parte promove as tensões próprias do
poder, o poder de manter a tradição e o poder de mudar.