Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 449

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de aula. Castro manifesta explicitamente uma
preocupação
com a formação de nossos
professores na faculdade de educação (pública?) e de como vão para o mercado de
trabalho, ou seja, saem mal formados e mal preparados para assumirem as salas de aula.
A culpa, então, é dos professores dos professores. Nesse sentido, questionamos se
Castro está realmente interessado nos professores ou na manutenção e fortalecimento de
todo um sistema socioeconômico pautado pela hegemonia da esfera econômica da vida
humana, pela competição capitalista e pelo individualismo. Parece-nos que a
preocupação dele, nessa perspectiva, está em formar indivíduos tecnicistas.
Outro exemplo de Castro: “a lógica é inapelável: como os professores não
aprenderam a ensinar, os alunos não aprendem o que deveriam aprender”. O colunista
insiste em ressaltar a suposta
incompetência
dos professores. As expressões “o resultado
é trágico” e “a lógica é inapelável”, tornam-se estratégias para que revele a face
negativa da educação brasileira, isto é, não há alternativa senão reconhecer que nossos
profissionais da educação são incompetentes porque são mal preparados na faculdade,
mas não em todas. Uma característica observada em Castro, é que há um interesse em
apontar as falhas no ensino público, não apenas porque vê somente falhas, mas porque
silencia outros discursos como o político, empresarial, gerencial e até mesmo pessoal,
como notamos no exemplo abaixo:
Ato I. Oitocentos professores no auditório. Peço que levantem a mão aqueles que
aprenderam a ensinar “regra de três” na faculdade de Educação. Surpresa! Nem uma só
mão levantada. Ou seja, não aprenderam como ensinar a mais útil das ferramentas
matemáticas.
Nesse recorte, notamos o espanto e a indignação irônica do articulista por meio
da expressão
surpresa.
O uso da interjeição desmascara um efeito de intensidade com
que o ele constrói sua voz de indignação, rejeição e, de certa forma, até de
contentamento, pois esses professores comprovam sua tese. Nenhuma mão levantada
significa, para Castro, o retrato fiel da realidade do ensino nas faculdades de educação.
Não levantar a mão, nenhuma sequer, torna-se um dizer claro e transparente: não se
ensinam como deveriam ensinar.
Portanto, estamos diante de uma visão unilateral dessas esferas que é
implicitamente imposta. Outro reflexo da visão unilateral é o pressuposto de que o
sistema educacional, por meio das faculdades de educação, deve preparar os alunos
primordialmente para o ensino mecanicista, reprodutora de conceitos. Por fim, os
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