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Esse saber não foi exclusivamente dado por
Veja,
mas também pelo leitor, consumidor e
mantenedor desses discursos. Para Discini (2003, p.119), o leitor sanciona esse dizer
que “volta a alimentar a manipulação, confirmando aquele fazer contínuo, cursivo,
próprio do sujeito automatizado que, dia-a-dia, firma a ilusão de que escolhe: jornais
para ler, mundos em que inserir”.
O discurso educacional em
Veja
: controle do saber ou práticas de poder?
Se os discursos dos articulistas de
Veja
evidenciam uma articulação discursiva
com efeito pedagógico, é preciso entender o que representa culpar professores e
glorificar o LD, pois
Veja,
ao explorar o universo da educação, apresenta-se como
grande
aliada
da política educacional e, talvez por isso, tenta nos disciplinar e
direcionar nossas escolhas. No entanto, isso é articulado de uma maneira tão sofisticada
e dissimulada, que praticamente se torna imperceptível aos leitores. Assim, por meio de
seu saber, o articulista exerce o poder sobre o leitor oferecendo-lhe
remédios
para a cura
de
enfermidades
da educação. Essa estratégia de controle engloba o exercício da
coerção que não cessa de preservar o nível da mecanicidade sobre as ações dos sujeitos
(FOUCAULT, 1987).
Castro ao dizer que “a receita é simples, precisamos de livros detalhados, em
mãos de professores que aprenderam a usá-los e a dar aula”, revela que ter o livro como
receita representa que acreditamos na ideia de um currículo básico comum, cujos
conteúdos contribuem para formar sujeitos homogeneizados. Em outras palavras, esse
discurso educacional via
Veja
em favor do LD fabrica o mesmo tipo de sujeito, a partir
de um determinado molde, a partir da verdade de que LD detalhado é capaz de resolver
os males da educação. Esse é o discurso de
Veja e
é aceito como verdadeiro por muitos
leitores. Essa produção de verdade fortifica a relação do poder que essa revista mantém
sobre esse tipo de discurso. Foucault (2007b, p. 44) nos diz que “todo sistema de
educação é uma maneira política de manter ou de modificar a apropriação dos discursos,
com os saberes e os poderes que eles trazem consigo”. De acordo com esse pensamento
de Foucault, entendemos que o poder que permeia o discurso dos articulistas de
Veja
não se apresenta funcionando como repressão, mesmo que se mostre o desejo de
homogeneização trazida pelo LD, maquiado por uma proposta eficaz de ensino, em que