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aprendizagem dos alunos, só porque se usou determinados livros. O articulista atende,
no terceiro ato, aos professores de forma particular, alivia os anseios daqueles que
não
sabem ensinar, como se houvesse, conforme ele mesmo diz, receitas infalíveis num
material didático para se dar aulas: “A receita é simples, precisamos de livros
detalhados, em mãos de professores que aprenderam a usá-los e a dar aula. Assim se faz
no mundo inteiro”. Ao dizer que
precisamos de livros bem detalhados
, entendemos que
a exaltação do LD não é porque se restringe aos seus aspectos pedagógicos e às suas
possíveis influências na aprendizagem e no desempenho dos alunos. Há, nessa FD, um
jogo discursivo complexo que marca esse dizer: o comércio criado em torno desse
material faz dele indispensável produto econômico para as editoras. Outro aspecto que
percebemos nesse fragmento é que se o LD é uma receita simples, os professores
também se tornam indivíduos repetidores de conceitos. Logo, também fica explícito que
os LD que estão nas escolas também não são adequados.
Parece-nos que há o desejo de padronizar, por meio de material didático, o que
é heterogêneo, a sala de aula. Nossa
rebeldia
não reside em condenar o LD, mas de o
rejeitarmos como única fonte de conhecimento, projetado para a repetição. Assim,
quando a escola adota determinado livro, é como se assinasse um termo de fidelidade.
Esse material torna-se a identidade da escola. É essa identidade que Castro propõe
silenciosamente para as
boas
escolas, não uma identidade qualquer, mas aquela que ele
considera ideal. Entretanto, Castro deixa claro que “os exemplos acima não têm foros de
evidência científica. Contudo, refletem a direção tomada pelos cursos que formam
nossos professores”. Se não fala sob o ponto de vista científico, entendemos que seus
apontamentos revelam outros saberes que visam um posicionamento
contra
as políticas
públicas de ensino.
Veja,
então, constrói saberes não científicos, mas saberes aceitos por
seus leitores, tomando-os verdade.
O articulista, nessa perspectiva, denomina o LD como um espaço fechado de
sentidos, mas capaz de render os melhores resultados para a educação. É dessa forma
que ele deve permanecer nas salas de aula. Nesse aspecto, todo o conhecimento
materializado no livro torna-se verdade absoluta, é uma ferramenta limitadora e
uniformizadora da aprendizagem. O estímulo à criatividade é abolido e a obediência
valorizada. Para esses articulistas de
Veja
, o livro funciona como uma fonte do saber
para o professor que não sabe. Nessas condições, esse material acaba sendo dispensável