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personagens presentes nos trechos analisados até agora seguem os mesmos papéis, os
professores, responsabilizados;
Veja
, informadora da verdade; e os alunos, passivos e
impotentes diante da situação, vítimas do anacronismo do sistema tradicional de ensino,
também reforçado no discurso que enaltece o uso de bons livros didáticos (LD), como
veremos a seguir.
A salvação: o livro didático
O propósito dos articulistas em mostrar o fracasso dos professores em sala de
aula revela,
a priori
, duas FDs: há uma apresentação de um suposto sistema falido de
educação para realçar outro, comprometido com a boa formação dos professores e que
isso se dá em decorrência do uso de bons materiais didáticos tanto na faculdade quanto
na prática dos docentes em sala de aula. Observemos, então, como Castro constrói seu
discurso que, de certa forma, induz seu interlocutor a corresponder às suas expectativas.
Ato II. Três mil professores no auditório. Falo com eles sobre a importância de
receberem material didático bem detalhado, de forma a melhorar suas aulas e facilitar
sua vida. Sou aplaudido de pé.
Choram de decepção, ou de raiva, os fundamentalistas
antilivros presentes ao evento. Para eles, o professor precisa inventar sua aula em vez de
usar o bom material existente.
Ato III. Eu
em conversa com algumas professoras. Como elas não aprenderam na
faculdade a dar aula, admitem que seus alunos servem de cobaias, enquanto elas
aprendem
–
processo que pode durar até cinco anos. É como se num curso de cirurgia
os alunos estudassem apenas a psicogênese do ato cirúrgico. Ao se formarem, teriam de
inventar maneiras de operar seus pacientes, já que não as haviam aprendido no curso.
Pouco a pouco, aumentaria o número de sobreviventes entre seus pacientes.
Nesses fragmentos, Castro usa uma estratégia de poder que institucionaliza
uma verdade para reforçar as relações de poder que, naquele momento, exerce sobre
seus espectadores. Cruzam-se, nessa síntese de métodos
educacionais
, a visão de que a
educação deve se encaixar nos moldes técnicos, ou seja, o LD torna-se solução em
oposição àqueles que buscam novas formas de saber. Ou seja, o professor deixa de ser
aquele que sabe e agora espera que lhe digam o que fazer. No ato II, Castro defende
diante de três mil professores que um LD bem detalhado facilita a
vida
. Tal vocábulo
sofre um deslocamento de sentido, ou seja, o objetivo final, não é facilitar a vida pela
utilidade dos livros didáticos, mas apresentar teorias aplicáveis à prática, o que também
não significa que em todo lugar e a qualquer tempo, teremos o mesmo retorno na