Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 454

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a única resposta é aquela proposta pelo organizador de um livro. Afinal, a receita foi
dada, basta aceitá-la como a melhor. Talvez esse seja o grande fôlego que sustenta o
discurso de Castro, pois cria um terreno propício para enveredarmos pelos caminhos dos
supostos LDs eficientes.
Outro excerto de Castro que retoma a questão do LD como veículo de verdade
é: “um educador deveria ter também um livro que pudesse consultar quando quisesse
saber como ensinar a regra de três. Só que há resistência a livros tão específicos”. Há
uma tensão, tanto no exercício do poder quanto na ação de resistir, quando o articulista
apresenta a necessidade de ter um livro salvacionista. Essa tentativa de inculcar o
milagre do LD é uma forma de reagir ao poder do leitor que se instaura a partir da não
adesão de seu ponto de vista. Para Foucault (1979, p. 8)
O que faz com que o poder se mantenha e que seja aceito é simplesmente que ele não
pesa só com uma força que diz não, mas que de fato ele permeia, produz coisas, induz
ao prazer, forma saber, produz discurso. Deve-se considerá-lo como uma rede produtiva
que atravessa todo o corpo social muito mais do que uma instância negativa que tem
como função reprimir.
A relação de poder, conforme propõe Foucault, é uma prova de que existe, no
discurso, espaço para intervenções, oscilações, inversões, isto é, mudanças que também
permeiam a educação na ótica de
Veja
. Para o articulista, “há resistências a livros tão
específicos”, então tomamos Foucault (1995) que esclarece que o poder é exercido
sobre sujeitos livres, pois as relações de poder também são formas de resistências. Entre
mídia e educação, as resistências se exercem reciprocamente, pois são lugares
institucionais legitimados socialmente na divulgação do saber e, por isso mesmo, são
dois segmentos sociais que controlam o que deve ou não ser dito. Assim, para
entendermos o sentido das resistências nessas instâncias discursivas, reiteramos o que
Foucault (2003, p. 232) diz a respeito da resistência ao exercício do poder.
[...] As relações de poder suscitam necessariamente, apelam a cada instante, abrem a
possibilidade a uma resistência, e é porque há possibilidade de resistência e resistência
real que o poder daquele que domina tenta se manter com tanto mais força, tanto mais
astúcia quanto maior for a resistência. Se não houvesse resistência, não haveria poder.
A assunção desse ponto de vista de Foucault nos mostra que a questão da
resistência está atrelada à repetição insistente de um discurso, nesse caso, do discurso de
Castro que enuncia o valor sobre o material didático tido como
solução
para a educação
brasileira. Entretanto, essa insistência do articulista tem encontrado outra resistência e,
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