Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 465

na mão e com um olhar confiante, o que simboliza sua valorização social, o poder frente
ao feminino e aos filhos, bem como é caracterizado pela racionalidade e condução das
decisões sociais e familiares (como presentear a esposa com um carro), fatos que
corroboram efeitos de sentidos já sedimentados na sociedade.
A mulher, contudo, é disposta a certa distância do esposo, mas a ele lança um
olhar de admiração, assim como os filhos que esta segura pelas mãos. Estas figuras
cristalizam o afeto, a caracterização das emoções, a amabilidade e, novamente, a
superioridade masculina e subserviência feminina. Podemos perceber também que ela
está de posse de um avental e vestida de forma simplória, mas ainda assim muito bonita,
com o cabelo bem arrumado e com um pequeno sapato de salto alto, assinalando uma
valorização dos valores estéticos e um atravessamento da formação ideológica midiática
e capitalista.
Desse modo, o sujeito discursivo veicula, buscando uma identificação do
consumidor com o produto ofertado, efeitos de sentidos acerca da instituição familiar e
das relações amorosas e faz com que o potencial comprador do produto automobilístico
creia que a marca prega a igualdade entre os sexos. Na verdade, por meio da
legitimidade instaurada pelo gênero midiático na memória coletiva, este acontecimento
discursivo parece recriar uma concepção de feminino e, por decorrência, de masculino,
todavia, do ponto de vista sexista que institui verdades sociais acerca dos gêneros há
muito arraigadas e reavivadas constantemente nas representações sociais.
Neste discurso, a mulher é enunciada numa aparente valorização do que seriam
suas qualidades e virtudes, ao menos as que a sociedade determina que deva possuir
para que seja valorizada e assegure seu lugar de submissão e “felicidade”, buscando
individualizá-la, torná-la única e estimada. Contudo, por meio de uma visão
masculinizada e sexista, lugar em que suas virtudes, características, anseios e até mesmo
dizeres são regrados pelo Outro que faz silenciar, que significa o eu, que estabelece suas
fragilidades e uma identidade calcada no masculino.
De acordo com Oliveira (1993), a ressiginificação feminina não poderia ocorrer
de outro modo que não a partir do universo masculino, uma vez que é por meio dos
arquétipos que as silenciaram e subordinaram ao Outro, com quem dialogam, que
poderiam se fazer femininas e de algum modo, determinado pelo masculino,
emancipadas.
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