Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 475

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segurança do presídio. É como se fosse uma leitura censora que tenta impedir o preso
em escrever sobre assuntos que comprometam a segurança como plano de fugas e
solicitação de material ilícito como celulares e drogas.
A questão que coloco para o debate é a do indivíduo definido, conforme já
salientei nos moldes da AD, como interpelado em sujeito pela ideologia. Para tanto,
interessa-me dois conceitos da teoria pechetiana como sustentação teórica para
reafirmar o que pretendo com esse trabalho:
não há ritual sem falhas
(Pêcheux 2009)
e
não há poder sem resistência
(Pêcheux 1990)
.
Um indivíduo assujeitado e resistente
Dentro da concepção teórica pechetiana, especificadamente no anexo III
intitulado a partir de
só há causa daquilo que falha ou o inverno político francês: início
de uma retificação
do livro
Semântica e discurso,
o funcionamento da linguagem não se
dá de modo estanque, quadradinho, transparente, com sentido único e literal. Desse
modo, o discurso epistolar, se considerado um texto, não se constitui enquanto algo
delimitado, completo com começo, meio e fim (Indursky 2006).
O texto, para a AD, é como um mosaico de outros discursos, irrepresentado pelo
interdiscurso, que o sujeito na posição de autor os une em um corpo único sob a ilusão
de que deu um fecho ao seu trabalho de operário da escrita. Nessa perspectiva, o texto é
um espaço discursivo, não fechado em si mesmo, pois ele estabelece relações não só
com o contexto, mas com outros textos e outros discursos.
Para Indursky (2006) o texto não é pensável enquanto uma instância enunciativa
homogênea, mas como um conjunto de textos mobilizados e atravessado por diferentes
subjetividades que nele fazem ressoar diferentes sentidos inscritos em diferentes
Formações Discursivas (FDs). Ele é simbolicamente fechado pelo trabalho discursivo
do sujeito-autor que costura e organiza os recortes heterogêneos, dispersos e
provenientes de diferentes cadeias discursivas e apaga as marcas de sua procedência,
exterioridade/heterogeneidade/dispersão.
A autora acrescenta que o efeito-texto traz consigo outras características além de
apresentar-se como se fosse um texto que está na origem do seu autor, apagados os
vestígios de sua interdiscursividade e demarcando-se de todos os outros textos. Ou seja,
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