Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 477

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brechas e lapsos que o sujeito, mesmo na condição de interpelado, produz gestos de
resistência.
Ao assegurar que não há assujeitamento sem resistência, Althusser (1985, p.
106) afirma que
o Estado e seus aparelhos, só tem sentido do ponto de vista da luta de classes,
enquanto aparelho da luta de classes mantenedor da opressão de classe e das
condições da exploração e sua reprodução. Não há luta de classes sem classes
antagônicas. Quem diz luta de classe dominante, diz resistência, revolta e luta de
classe da classe dominada.
Penso o Estado, representado pelos funcionários do sistema prisional, como
aquele que se coloca na posição de classe que domina e os presos na de classe
dominada, mas que resiste ao modo como lhe é possível produzir essa resistência, ou
seja, nas condições de vigiado, controlado e “submisso” a todas as normas que lhe são
impostas.
O Estado impõe seu ritual através de normas a serem cumpridas, mas todo ritual
de linguagem está sujeito à
falha
constitutiva da língua. Nas palavras próprias do autor,
o que se compreende é que “não há dominação sem resistência” (Pêcheux 2009, p. 281)
e que é preciso ousar se revoltar. No entanto, como o sujeito-preso produz essa
resistência pelo funcionamento da língua, através da escrita das suas cartas?
A língua que escapa da transparência e da literalidade
Pêcheux (1969) define o discurso como efeito de sentidos entre locutores, ou
seja, o sentido não está alocado em lugar nenhum, mas se produz nas relações dos
sujeitos e dos sentidos. Isso somente é possível porque sujeito e sentido se constituem
mutuamente, pela sua inscrição no jogo das múltiplas FDs.
Nesse processo em que o sentido se faz nas relações entre sujeitos, também há o
silêncio. Orlandi (2002) trabalha com a censura não como sentido proibido, mas como
fato produzido pela história. Para a autora, há um silêncio local que se define como o
que é proibido dizer em uma conjuntura social. Este se caracteriza com o sentido
produzido a partir de um lugar e de uma posição do sujeito que ao dizer, outros dizeres e
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