Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 468

dedicação para com o outro, todavia, há também a emergência (implícita) da
caracterização do masculino que, ao não ser enunciado e significado como responsável
ou parte constituinte da execução destas tarefas familiares, é cristalizado como uma
figura a quem não cabe estas funções sociais.
Visualizamos, em decorrência destas primeiras caracterizações analíticas
apresentadas, a veiculação deste acontecimento discursivo à formação ideológica
tradicional, atravessada pelo sexismo, pela determinação da identidade feminina, que,
por sua vez, está totalmente subordinada pelo e ao Outro, pelo masculino que interdita
os dizeres, as ações e a atuação social, que determina os interesses femininos e
naturaliza a maternidade ligada à afetividade, não permitindo que a mulher constitua-se
de uma identidade calcada, de fato, no feminino e na emancipação.
Em
“Nosso profissionais são uma mãe para o seu Volkswagen”
há a emergência
de um implícito que está subentendido, bem como de uma ideia metaforizada. Isto é, de
acordo com o sujeito discursivo, a figura feminina e mãe é símbolo da doçura, da
amabilidade, do desprendimento e da doação inteiramente ao filho. As imagens de zelo,
carinho e amor estão, deste modo, associadas unicamente à figura feminina, uma vez
que a formação discursiva sexista e tradicional indica que este deve ser o lugar ocupado
pela mulher. Ainda que, na modernidade, esta assuma outras funções sociais, tais como
trabalhar fora, ela deverá assumir dupla jornada de “trabalho”: o trabalho no mercado de
trabalho e o trabalho no ambiente doméstico, com o cuidado com os filhos, com os
afazeres domésticos, com a educação das crianças e o zelo pelo marido (figurativização
da concepção de mãe associada à ideia de boa esposa).
Observamos, neste momento, a reiteração de valores cristalizados na memória
discursiva com a concepção patriarcal familiar, uma vez que se reconstroem os valores
de uma formação discursiva capitalista e, ao mesmo tempo, tradicional, que dita que a
mulher deve ser emocionalmente estabilizada para que se exima dos erros e das
incompletudes humanas, somente assim, de acordo com esta visão ideológica, poderá
ser boa mãe, boa esposa e, em decorrência, feliz.
Assim, podemos perceber o diálogo de duas vozes e sentidos opostos ligados às
ideias enunciadas e que simbolizam a fragmentação dos sujeitos e da sociedade nestas
condições de produção: o primeiro sentido aponta para uma mulher que anseia o
desprendimento do lugar masculino, de uma figura masculina que quer se emancipar,
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