ter uma “tradução” em uma linguagem que o homem médio possa entender
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. Em pleno
século XXI, ter que lançar mão de um tradutor para as sentenças, é algo que corrobora
tudo que foi dito neste trabalho.
O delegado-geral de São Paulo, Dr. Marcos Carneiro em entrevista publicada no dia
10/01/2011 na “Folha.com”, condenou o uso do latim “O pior é quando escrevem em
latim de maneira errada”, reclamou. Prometeu publicar uma portaria para proibir tais
termos nos Boletins de Ocorrências (BOs) e outros documentos da Polícia Civil de São
Paulo
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.
Não se pode dizer com isso que as iniciativas das entidades estão equivocadas, muito
pelo contrário, elas vêm ao encontro deste trabalho e denunciam que a linguagem
rebuscada, carregada de estrangeirismos (principalmente latinismos) e palavras arcaicas
tem prejudicado a comunicação jurídica. O que se questiona não é a iniciativa em si,
mas como ela vem sendo implementada, ou seja, em vez de combater a prática, as
iniciativas têm ampliado o fosso entre a população e o sistema Jurídico.
Streck (1999) diz que vivemos uma crise com três matizes, “a crise estrutural
(deficiência de juízes, falta de controle externo), uma crise funcional (inadequação de
leis, problema de acesso à justiça) e uma crise individual, que pode ser chamada de
imaginário. Essa crise de imaginário é fortíssima, porque, de certo modo, faz uma
amalgama das outras duas”. O jurista afirma também que toda vez que a crise do
judiciário se agudiza, o
staff
jurídico responde com soluções
ad hoc
, em nossa opinião
essas iniciativas são típicas soluções cosméticas e paliativas, ou seja, admite-se o
problema e propõem “traduções”, “cartilhas”, “manuais”. Na realidade, não se busca
uma solução definitiva.
Além do esforço dessas entidades, é preciso que a tal “reeducação linguística”
mencionada no site da AMB, seja efetivada urgentemente. Em nossa opinião,
“reeducação linguística” é escrever como todas as pessoas escrevem, usando o
português do Brasil; porque como dizia o velho guerreiro “Quem não se comunica, se
trumbica”.
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Haroche (1992) cita a necessidade de tradutores franceses no século XVI, quando se deu a exigência do
uso do francês e a população só entendia o patoá.
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fala-em-melhorar-atendimento.jhtm