Em nosso trabalho, o discurso do
humor politicamente incorreto
e do
escracho
presente no desenho animado estadunidense
South Park
é compreendido como
possibilidade de “trapacear com a língua” e como forma ou tipo de discurso que
possibilita uma produção de sentido contra-hegemônica ou diferenciada dos discursos
dominantes. O humor é tomado como um discurso à deriva, caracterizado pela busca de
inversão e a deformação do que é sério e/ou é instituído.
Discurso do humor
Tomamos o discurso humorístico como objeto de estudo, entretanto miramos
em um “tipo” específico de humor, aquele vinculado ao escracho, ao deboche, à acidez,
mas, sobretudo, a um humorismo fundamentando na crítica. Assim, partimos de uma
premissa de que o discurso humorístico, em sua essência, é “[...] uma forma de
linguagem construída especialmente para a comunicação daquilo que se encontra
vigiado e aprisionado no plano psicológico, social ou político.” (JUSTO, 2006, p. 108).
Nosso objeto empírico, ou seja, o texto com o qual trabalhamos, é uma obra de
arte considerada “menor” pela crítica artística. Estudaremos o desenho animado
estadunidense
South Park
, criação de Trey Parker e Matt Stone. Entendemos que o
humorismo “Southparkiano” é capaz de trapacear com os mais diversos discursos,
sejam estes hegemônicos ou contra-hegemônicos, justamente por visar escrachar e
ridicularizar os signos e significados pré-concebidos e naturalmente aceitos que estes
(discursos hegemônicos e contra-hegemônicos) produzem e propagam.
Como a linguagem “Southparkiana” é expressão do cômico, cabe,
primeiramente, tecer algumas breves considerações sobre a gênese desse gênero da
linguagem. Ao realizarmos um breve levantamento bibliográfico acerca do discurso
produzido pelo humor (ARÊAS, 1990; BAKTHIN, 1996; BERGSON, 1987; JUSTO,
2006; MACEDO, 2000; MINOIS, 2003; LIPOVETSKY, 2005), notamos que este
detém justamente caracteres de escracho, de contestação, de acidez, de crítica etc.
podendo, inclusive, se converter em um dispositivo para reflexão acerca do mundo, do
homem, do conhecimento, das crenças e da sociedade.
Na contemporaneidade, o humor perde bastante de seu poder combativo em
virtude do cinismo que o acomete (BIRMAN, orelha do livro de: KUPERMANN,