de Lingüística Geral
. Isto não significa,
a priori
, dar uma supra-importância ao
processo sócio-histórico em si, embora haja uma consideração especial pelo que é
descrito por Maingueneau (1997) como os conflitos históricos, sociais, entre outros, que
se cristalizam nos discursos.
Além disso, “[...] somente a língua torna possível a sociedade.”
(BENVENISTE, 1989, p. 63); logo, os sentidos propagados pela e na linguagem são
concebidos e construídos socialmente. Contudo, há dúvidas quanto às significações pré-
concebidas e naturalmente aceitas. O filme “Enigma de Kasper Hauser” (1974), de
Herzog, nos leva a várias indagações quanto à representação do que é real pela
linguagem. Blikstein escreve
Conhecer o mundo pela linguagem, por signos lingüísticos, parece não bastar para
dissolver o permanente mistério e a perplexidade do olhar de Kasper Hauser. Talvez
porque a significação do mundo deve irromper antes mesmo da codificação lingüística
com o que recortamos: os significados já vão sendo desenhados na própria
percepção/cognição da realidade (BLIKSTEIN, 1994, p. 17).
Um de nossos pressupostos neste trabalho é o de que há discursos articulados a
grandes enunciados ou máximas sociais amplamente reconhecidos, compartilhados e
instalados no corpo social. Tal instalação e enraizamento se dão pela repetição, muitas
vezes exaustiva, transfigurados em diferentes textos e por matrizes psicológicas que
desde um solo cognitivo ou emocional-afetivo constituem um território subjetivo e
reforçam seu sentido de veracidade.
Outro pressuposto é o de que a linguagem, como produção social, é parte das
relações de poder e se presta como instrumento de dominação, controlada pelas forças
hegemônicas. Foucault (1987) e pensadores da Escola de Frankfurt (ADORNO, 2006;
HABERMAS, 2000) destacam com bastante veemência o efeito homogeneizador que os
agenciamentos de enunciação, articulados com poderes constituídos – produzem ao
alinhar, por classificação ou domesticação –, discursos dispersos e heterogêneos.
Barthes, de maneira bastante radical, denunciou o efeito dominador da linguagem ao
afirmar categoricamente que “toda a linguagem é fascista” (BARTHES, 1988, p. 13),
não exatamente por interditar, mas por “obrigar a dizer” dentro do convencionalismo e
de uma dada gramática da língua. Mas ele próprio, no mesmo texto, também reconhece
que não há como viver fora da língua e que a alternativa possível para o sujeito é
trapacear com ela, tal como faz a literatura e a poesia.