do século XII começa a escrever separando as palavras e se inscreve necessariamente no
progresso do aparelho jurídico.
Do século XI, Haroche (1992) cita dois elementos de muita importância: a evolução dos
artesãos ligada ao desenvolvimento do comércio (aparecimento das corporações de
ofício) e a emancipação dos camponeses pela “compra” de sua liberdade. Todas essas
reivindicações revestem-se de um caráter jurídico, “o senhor tem interesse em conceder
a “liberdade”, para cobrar-lhe impostos”. O homem se torna livre para se obrigar.
Pelo estudo da linguagem, a autora identifica outros acontecimentos importantes
principalmente a partir do século XIII. A crise da Dupla Verdade no século XIII. A
chegada de textos aristotélicos na Universidade de Paris no século XIII, traduzidos e
comentados pelo filósofo árabe Arrevóis, trazem essa agitação. Os escritos aristotélicos
são abertamente contrários ao ensino da igreja que baseava sua “verdade” na fé,
enquanto que os textos aristotélicos privilegiavam a razão. A teoria averroísta prega o
divórcio entre a revelação e a razão, Haroche (1992, p. 62), citando Siger de Brabant,
(ensinava na Universidade de Paris e era considerado o chefe do movimento averroísta
latino): “Siger escapava, com efeito, pela reflexão, a esta forte imposição ideológica da
ordem religiosa sobre o individuo. E é precisamente contra a possibilidade de escapar a
esta dominação que lutam as autoridades religiosas.”
A crise da Dupla Verdade é essencialmente doutrinal, vai transformar a ordem religiosa
e abrir espaço para que a ideologia jurídica possa florescer. A “Crise da Dupla Verdade”
trata-se de uma crise provocada pelo perigo da explosão de uma contradição maior no
próprio seio da ordem religiosa: contradição entre, de um lado a fé e, de outro, a razão;
contradição entre a ordem divina do saber e da verdade, e sua origem, fundada no
exercício da razão. As autoridades eclesiásticas se mostram muito desconfiadas frente a
um excesso de procura do verdadeiro pela filosofia, pelo raciocínio, pelo racionalismo
que poderia conduzir a criticar, mesmo rejeitar, a infalibilidade do dogma.
O ensino baseado em dogmas exige uma obediência cega à fé divina. Os textos de
Aristóteles libertam o homem para o conhecimento. Com as traduções de Física,
Metafísica e, sobretudo, em A Ética em Nicômaco, desconhecidos até então pelos
europeus, a contribuição de Aristóteles não se limita apenas a teologia – houve uma
tentativa de conciliar os textos aristotélicos com a religião, principalmente por São
Tomás de Aquino – especialmente em A Ética em Nicômaco, que propunha um ideal