Brasil. No entanto, o que podemos perceber é que, diferentemente de produzir a
extinção do preconceito racial, esses novos modos de designar os sujeitos afetam na
constituição de suas subjetividades, alterando as posições de dizer que tais sujeitos
ocupam na sociedade, bem como produzindo uma nova divisão social, desta vez,
administrada pelo consenso sobre as identidades existentes na sociedade brasileira.
Em outra reportagem, que circulou no site “Mídia Independente”, encontramos
um enunciador ocupando uma posição-sujeito “mulato” e reivindicando seu direito de
poder ocupar esse lugar social de dizer. A matéria traz como título o seguinte
enunciado: “Mulata denuncia negra por discriminação racial”. Neste enunciado,
podemos perceber a presença de um dizer acerca da distinção racial existente entre
“mulatos” e “negros”; há, neste caso, a presença de duas posições-sujeito, responsáveis
pelos dizeres acerca do ser negro e ser mulato. A matéria segue com o seguinte dizer:
“Ela disse que mulato não existe, e que a palavra vem de ‘mula’”. Podemos perceber a
presença do dizer do enunciador que ocupa uma posição-sujeito negro no interior de
uma formação discursiva que reivindica como memória discursiva a origem do léxico
“mulato”, como proveniente de mula, etimologicamente. Sustentado por esse saber
etimológico, o enunciador produz um apagamento desse léxico, impedindo-o de
circular, silenciando-o. Há, neste caso, uma interdição do dizer do sujeito que ocupa
uma posição “mulato” no discurso. Logo, há um deslocamento dessa posição para o
interior de uma formação discursiva que sustenta apenas os dizeres dos sujeitos que se
identificam com um lugar de dizer “negro” na sociedade. Estamos diante de um
apagamento da miscigenação, em detrimento à exaltação ao ser “negro” na sociedade
brasileira.
Como uma forma de sustentar o efeito de sentido produzido pelo deslocamento
da posição de sujeito mulato, vemos o seguinte argumento: “mulatos são vistos como
objetos sexuais". Estamos diante de um pré-construído que sustenta dizeres
preconceituosos acerca da miscigenação racial na sociedade. É como se o fato de
pertencer a um lugar social específico, determinado por sua etnia transformasse um
sujeito de seu lugar de sujeito para o lugar de objeto. Ou seja, produz-se, pela
designação “mulato”, uma coisificação, reificação dos sujeitos, tornando-os objetos de
uso por outros sujeitos.