Não podemos nos furtar a observar que toda essa discussão acerca da
constituição racial brasileira originou-se recentemente tendo como mote as discussões
acerca das políticas de ações afirmativas para acesso às universidades públicas.
Destarte, é por meio de documentos oficiais e discursos que mobilizam tal temática,
como pichações, entrevistas, etc. que podemos verificar um deslocamento produzido
nas formas-sujeito “negro”, “mulato” e “pardo”, preferindo-se novos modos de nomear,
como “afrodescendente” e “afro-brasileiro”. Entretanto, tais designações produzem
efeitos outros de sentido nos discursos sociais.
À guisa de conclusão
Inicialmente, buscamos compreender de que modo as designações “negro”,
“mulato”, “preto”, “afrodescendente” e “afro-brasileiro” produziam sentidos nos
discursos referentes às políticas de ações afirmativas. Entretanto, o tema obrigou-nos a
buscar compreender tais léxicos em outros discursos, nos quais havia um deslocamento
das posições de sujeito ocupadas, fazendo com que houvesse um apagamento
determinados sentidos, quais sejam, os da miscigenação. Pudemos notar que os modos
de designar tais sujeitos afetam seus dizeres em uma sociedade em que o preconceito
não aparece de modo transparente, mas é significado nas relações simbólicas,
demarcando os espaços ideológicos que cada sujeito ocupa nos dizeres sociais.
Esperamos ter promovido uma melhor compreensão dos modos de significar os
sujeitos e dos sujeitos ao atribuírem-se determinados lugares de dizer, fazendo com que
certos sentidos sejam recrutados em detrimento a outros, afetando substancialmente a
constituição de sua subjetividade e alterando de modo direto a constituição racial da
sociedade brasileira. Assim, podemos sair do lugar-comum, que assevera não haver
discriminação racial no país, e passamos a compreender de que modo se dá a divisão do
espaço discursivo, distribuindo os lugares de sujeito a cada um, conforme sua qualidade,
conforme a conveniência daqueles que, ainda, detém o poder de regular a voz que cada
indivíduo tem na sociedade, podendo se tornar, ou não, sujeito de seu discurso; podendo
sustentar, ou não, seus discursos de seu lugar de dizer.