Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1253

caráter notadamente burguês. Dentre as várias características, o autor destaca o
dilaceramento da razão em prol da emoção, impulso e espontaneidade, previstas na
teoria de Freud e na visão niilista de Nietzsche; a influência da tecnociência no
comportamento social; a presença marcante da informação na caracterização da visão
de mundo dos indivíduos; estetização e personalização dos objetos, como formas de
fazê-los atraentes, característicos da sociedade de consumo; desmaterialização do
mundo real, que se converte em signo, simulacro.
Segundo Baudrillard (1981), uma grande marca da pós-modernidade é que nela
lidamos mais com signos que com as coisas em si. O simulacro – como a televisão ou o
computador – usurpa o lugar do real e se torna avatar dessa ambiência. Assim, tem-se,
por meio de signos vários, a fabricação de uma hiper-realidade, uma sociedade
espetacular, uma fantasia semi-real mais interessante do que a própria realidade.
Saturados por essa espetacularização, o indivíduo pós-moderno é mediado pelos
objetos tecnológicos. Em meio a esse ambiente sígnico, onde tudo se transforma em
linguagem, pode-se pensar na pós-modernidade como uma espécie de Semiurgia: um
mundo hiper-real produzido exclusivamente por signos. Essa Semiurgia acaba, no
entanto, provocando uma desreferencialização do real, ou seja, a realidade se degrada
em fantasmagorias do universo sígnico, fazendo o sujeito perder a substância da mesma.
Tais características presentes na narrativa aproximam-se de uma outra marca
notória, denominada por Santaella (2007) de pós-humano. Trata-se, segundo a autora,
de narrativas denominadas
ciberpunks,
que se caracterizam por uma simbiose entre os
seres humanos e as máquinas, um tipo de ficção científica em que a sociedade caótica é
governada por gangues de ruas, corporações multinacionais, localizadas em
megacidades, onde a “extrema pobreza e a alta tecnologia coexistem” (p. 36). Aos
moldes de
O cheiro do ralo,
a personagem
ciberpunk
configura-se em um ser
“fragmentado, multiplicado, esquisofrênico”, “um mosaico flexível e permeável” (p.
37), ainda que não tenha sido completamente invadido pela alta tecnologia em seu
corpo, por meio de membros prostéticos, circuito implantado, cirurgia plástica ou
alteração genética.
Para a autora, a condição pós-humana caracteriza o homem atual, de acordo com
a pluralidade de suas dimensões, intimamente ligadas às tecnologias que já estavam
previstas, instaladas em sua genealogia:
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