Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1246

No entanto, as meninas, apesar de todos os argumentos usados por Irene, ainda
não compartilham de sua opinião; tornando-se necessária a introdução de um tema
novo, ou melhor, de um segmento do tema preconceito linguístico, que vem corroborar
a afirmação de Irene quanto à fala diferente de Eulália: a variedade lingüística.
O desconhecimento do tema por parte das meninas as deixam curiosas para
entender o que está subjacente aos comentários de Irene. É justamente nesse momento
que a personagem Emília utiliza a palavra-chave para essa discussão: “convencer”: (...)
_ “Quero ver a senhora... você me
convencer
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que a Eulália não fala errado.” (BAGNO,
2001, p. 15)
Nessa linha de raciocínio, Breton (1999, p.7) afirma que
a argumentação pertence à família das ações humanas que têm como objetivo
convencer (...) O ato de convencer se apresenta, de uma maneira geral como uma
alternativa ao uso da violência física. Na verdade, pode-se obter do outro um ato contra
a sua vontade com o uso da força. Renunciar a utilizar a força representa um passo em
direção a uma situação de mais humanidade, de um vínculo social partilhado e não
imposto.
Ora, o objetivo de Irene é fazer com que as garotas compartilhem da mesma
opinião que ela, e para tanto dará continuidade a seu discurso fornecendo-lhes boas
razões para isso.
Por conseguinte, ao traduzir para o português os versos da Divina Comédia:
“quem você, tão presunçoso, pensa que é para julgar coisas tão elevadas com a curta
visão de que dispõe?” (BAGNO, 2001, p.16). Tais palavras causam um desconforto, à
medida que mexem com o orgulho das jovens universitárias:
“_ É impressão minha, ou foi uma indireta? _ pergunta Silvia.” (idem)
Essa pergunta permite a Irene introduzir o que poderíamos chamar de “golpe
final”, pois vem coroar, de maneira sutil, tudo o que ela disse antes:
“_ Indireta nenhuma (...) _São uns versos bonitos que guardei de cor,
só isso
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.”
(ibidem).
Atentemos para o fato de a escolha dos versos não foi aleatória, pelo contrário, é
o que Ducrot chama de o argumento mais forte na escala argumentativa. Nesse caso, o
uso, aparentemente ingênuo, da expressão “
só isso
” torna, ainda mais evidente a
ignorância das garotas e a conseqüente falta de subsídios para julgarem como errada a
fala de Eulália.
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Grifos nossos
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Grifos nossos
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