clientes e o prazer voyeurístico de se masturbar olhando o corpo nu da menina drogada
que lhe vende coisas são exemplos dessa procura.
Contudo, apesar de tentar buscar sua identidade nos objetos – elevados a
simulacros pela sociedade consumista da contemporaneidade – o personagem narrador
nao encontrará nada. Ele perceberá tarde demais que “o que realmente eu buscava nao
estava ali. (...) o que eu buscava, era só a busca.” (p. 134). A personagem não
compreende que sua identidade se dará por meio da mediação com o outro, via
linguagem, pois “é através dela que o ser humano se constitui como sujeito e adquire
significância cultural” (p.91).
Quando o narrador recebe seus clientes, ele os atende um de cada vez, a portas
fechadas. Diverte-se ao humilhá-los e submetê-los ao seu poder. Reduz cada objeto
antigo oferecido e revestido de significados pelo cliente a “balangandã”, a
“quinquilharia”: objeto sem traços, sem marcas, sem história. Pura mercadoria. Objeto-
dejeto. Ao perder a referência tanto do ser quanto do objeto, o narrador não percebe que
ali, no diálogo com os outros, é que se encontrava sua salvação. Esses outros que
serviriam, como peças de um quebra-cabeças, como elementos de formação e
estruturação das identidades do narrador.
Segundo Freud, a construção do “eu” ou “ego” configura-se como uma realidade
imaginária e não originária. O eu psicanalítico consiste em uma instância mista, na qual
coexistem funções ao mesmo tempo pré-conscientes, conscientes e inconscientes, o que
impede de identificar o “eu” com o indivíduo ou pessoa. O “eu” consiste na forma com
que “Narciso ama a si mesmo, ama a imagem de si mesmo que ele vê no outro”,
imagem esta projetada no outro e no mundo é fonte de amor, de paixão e também de
agressividade e competição. (p. 102)
O ambiente saturado no qual vive a personagem relega-o a perder suas pequenas
formas de construção identitária. A única saída que sobra para o narrador é a
glorificação de seu ego no instante já, sem esperança no futuro vindouro. Ao
desestabilizar sua única forma de compreensão da multiplicidade identitária, a
personagem elegerá o Ralo como seu guia e interlocutor, mas logo percebe que este ralo
apenas habita o seu interior, impedindo sua interação em favor da construção identitária.
O outro é indispensável para a própria existência do ser, assim como ao conhecimento
sobre si mesmo.