pressuposições. A primeira delas é que o martelo precisou adquirir uma competência
que lhe permitiu realizar a performance. Nesse caso, considerando que não haveria nada
de anormal no fato do martelo bater no prego, já que ambos são feitos para desempenhar
esses papéis ou funções, poderíamos pressupor que o martelo quisesse ou devesse bater
no prego e que este último aceitasse levar marteladas necessárias para a execução de
alguma tarefa de pregar – o que, por sinal, ele não conseguiria realizar sozinho. Assim,
podemos pensar que houvesse um acordo, ainda que tácito, entre prego e martelo, para
que o segundo batesse no primeiro.
Entretanto, pressupõe-se também que a ação de bater no prego deveria
ter a duração necessária à realização da tarefa de pregar, o que seria considerado
adequado e justo. Bater o tempo todo no prego não se encaixaria nessa consideração.
Pelo contrário, seria um uso abusivo, por parte do martelo, do seu poder de martelar o
prego, de submetê-lo. Temos, então, um conjunto de valores, que podem ser definidos
da seguinte maneira: “poder e domínio” relacionados ao controle que inicialmente o
martelo exerce sobre o prego por meio de força, e o que podemos compreender como
“justiça e adequação”, relacionadas à maneira segundo a qual o bater do martelo no
prego seria aceitável, razoável. Dessa forma, cada um desses elementos constitui-se
num objeto investido de valor – um “objeto-valor”, com os quais os sujeitos prego e
martelo relacionam-se transitivamente.
Segundo Barros (1990, p. 22), dois tipos de valor podem ser
investidos nos objetos: os modais, “como o dever, o querer, o poder e o saber, que
modalizam ou modificam a relação do sujeito com os valores e os fazeres” e os
descritivos, que são aqueles que expressam os valores que o sujeito deseja alcançar. Em
“O Prego”, temos os valores relacionados no parágrafo anterior, que caracterizam-se
como valores descritivos. Além deles, temos também valores modais “querer bater no
prego” e “dever bater no prego corretamente”, que equivale a bater com “justiça e
adequação”. Sendo assim, podemos considerar os seguintes enunciados de estado:
S (martelo)
Ov (
querer
bater no prego)
4
; S (martelo)
Ov (poder, domínio)
bvbvbvbv valor modal
valor modal
valor descritivo
_____________
4
Como em Barros (1990, p. 20), temos: S = sujeito; Ov = objeto valor;
= conjunção.