o prego se cansa
e lança sua ponta afiada
na pança do martelo.
Observe-se que, ao recriar o texto, o compositor utiliza-se de
determinados recursos estilísticos especialmente interessantes para a exploração de
elementos musicais. Na primeira estrofe, podemos notar a construção das frases a partir
da repetição, com a eliminação de trechos iniciais, daquela que compõe originalmente o
primeiro e o segundo verso do poema:
O martelo passa o tempo todo batendo no prego.
Passa o tempo todo batendo no prego.
Batendo no prego,
no prego.
O martelo passa o tempo todo batendo no prego.
Além do resultado métrico e rítmico, o processo acaba por aumentar o
foco no prego, como num
zoom
, para depois recordar a frase toda, a ideia principal – a
performance
, que contém o programa de base do texto.
Já na segunda estrofe, podemos perceber dois momentos. O primeiro,
mais etéreo e fluido, remetem a um suspiro, que parece confirmado pelas reticências. O
segundo momento retoma a ideia expressa no primeiro, mas agora de forma mais
contundente e objetiva, que culmina na revolta do prego e seu ataque ao martelo, que
constituem o programa de sanção.
Como já foi mencionado, essa recriação do texto deu-se em função da
composição da canção, ou seja, pressupondo ou mesmo fazendo parte da criação
musical. Sendo assim, todas essas considerações tecidas a respeito da letra têm seu
correspondente musical, tanto no que diz respeito à rítmica, quanto à melodia e a
harmonia, bem como a seus correspondentes estilísticos, próprios da concepção musical
do autor. Posteriormente, foram também levadas em conta no momento da criação do
arranjo, por parte dos músicos intérpretes, em vista das possibilidades de
instrumentação disponíveis
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. Dessa forma, esse último momento – o da elaboração do
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Os o arranjo foi elaborado coletivamente, pelos estagiários e professores do Projeto Música Criança.