Anais do 1º Colóquio Internacional de Texto e Discurso - CITeD - page 1149

Como o julgamento do prego a respeito do estado resultante da ação do martelo foi
negativo – não parece e não é o que foi combinado inicialmente – a retribuição se dá em
forma de punição e termina por privar o martelo do objeto-valor descritivo “poder e
domínio”. Considerando a ação do prego de lançar sua ponta afiada como uma relação
de ataque ao martelo, temos o seguinte programa narrativo:
F (atacar) [S1(prego)
S2 (martelo)
Ov (poder e domínio)]
Embora não tenhamos aqui analisado uma primeira fase de
manipulação, pressupondo-a pela própria “natureza” do prego e do martelo – que teria
levado o martelo a querer bater no prego – podemos considerar que esta, embora
singela, seja uma narrativa complexa, em que estão presentes as quatro fases da
sequência canônica: manipulação, competência,
performance
e sanção.
Toda a sequência de programas narrativos apresentada constitui os
percursos narrativos dos sujeitos prego e martelo. Por sua vez, esses percursos definem
o esquema narrativo do texto, no qual temos o martelo como sujeito e o prego como
destinador-manipulador e também como destinador-julgador
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.
Nível discursivo
O nível das estruturas discursivas é aquele em que os esquemas
abstratos relativos às mudanças de estado, apresentados no nível narrativo, são
concretizados, ou seja, “as formas abstratas do nível narrativo são revestidas de termos
que lhe dão concretude” (FIORIN, 2009, p. 41, grifo do autor). É importante ressaltar
que “no nível discursivo, as oposições fundamentais, assumidas como valores
narrativos, desenvolvem-se sob a forma de temas e, em muitos textos, concretizam-se
por meio de figuras” (BARROS, 1990, p. 11).
Podemos dizer que o poema em questão constitui-se num texto
figurativo, porque nele utiliza-se termos como prego, martelo, ponta afiada, pança,
bater, cansar-se, lançar – que têm correspondentes perceptíveis no mundo natural – para
representar uma realidade. Sendo assim, podemos dizer que deve haver um ou mais
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Quando se fala de percurso narrativo, não se trata mais de actantes sintáticos (sujeito de estado, sujeito
de fazer e objeto), mas de papéis actanciais (sujeito competente, sujeito operador, sujeito do querer,
sujeito do saber, etc.). Já no esquema narrativos, temos actantes funcionais (sujeito, objeto, destinador,
destinatário) (BARROS, 1990, p. 36).
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